sábado, 13 de outubro de 2012

Moçambicanos no Zimbabwe: “Refúgio” vira inferno

 

Zimbabwe_welcome QUANDO Moçambique mergulhou na guerra e a vida tornou-se difícil milhares de compatriotas refugiaram-se nos países vizinhos à procura de segurança e melhores condições de vida. Zimbabwe, então segunda maior economia na região depois da África do Sul, foi o destino preferido por muitos moçambicanos. E nessa decisão pesaram também razões históricas. Alguns tiveram sucesso, mas com a crise no país vizinho a sua vida virou um inferno e de há um tempo a esta parte sentem-se marginalizados, não beneficiando de direitos básicos naquele país, onde vivem há décadas.
Maputo, Quarta-Feira, 7 de Julho de 2010:: Notícias
Idos de várias regiões do país, os nossos compatriotas entraram no Zimbabwe, na sua maioria, ilegalmente. Porque as condições no ponto de chegada o permitam, muitos deles singraram na vida. Com várias opções, uns abraçaram o emprego formal, outros o informal, incluindo a conta própria, e ainda as artes.
O país estava bem economicamente. Os nossos compatriotas tinham encontrado sossego. Porém, as coisas começaram a mudar, sobretudo a partir do ano 2000, quando a economia daquele país entrou em colapso, facto precipitado pelas sanções económicas do Ocidente, após a reprovação das políticas do Governo do Presidente Mugabe.
Iniciou então uma nova era, a de sofrimento no Zimbabwe. Os moçambicanos não escaparam, obviamente, à situação. Eles que na década de 80 deixaram o seu país vítimas de sofrimento, reencontraram as dificuldades.
Muitos deles sem formação, aliado ao facto de serem estrangeiros e sem documentação comprovativa da sua situação, os emigrantes moçambicanos vivem hoje a maior desgraça de que há memória, num país com imensas dificuldades.
Eles não têm acesso a vários serviços e oportunidades, vivendo numa situação bastante incómoda, à margem de benefícios que o Governo zimbabweano oferece ao seu povo.
Os moçambicanos dizem estar a ser marginalizados, tanto sob ponto de vista económico como social. Não têm emprego, falta-lhes o acesso à educação, assistência médica e medicamentosa, para não falar de habitação.
Segundo o embaixador moçambicano no Zimbabwe, Vicente Mebunia Veloso, são ao todo 12 mil os cidadãos moçambicanos que residem na terra de Robert Mugabe.

SEM ACESSO À EDUCAÇÃO E ASSISTÊNCIA MÉDICA


Maputo, Quarta-Feira, 7 de Julho de 2010:: Notícias
Esmeralda Massingue, presidente da Associação dos Moçambicanos Residentes no Zimbabwe (AMRZ), disse que muitas crianças, filhas de moçambicanos, não estudam por falta de documentos como Bilhete de Identidade ou Passaporte. Para a inscrição dos filhos nas escolas é imperiosa a apresentação de documento de identificação civil dos pais ou da própria criança.
De acordo com a fonte, para agravar a situação, o Governo zimbabweano aprovou recentemente uma lei que não permite a estrangeiros registar-se naquele país. O referido dispositivo legal, aprovado em 2001/2003, impõe que todos os estrangeiros interessados em registar-se como zimbabweanos têm de renunciar à nacionalidade originária, ao que alguns concidadãos não estão interessados, desejando viver em situação de dupla nacionalidade.
Mas, por outro lado, só é permitido adquirir nacionalidade zimbabweana a quem tiver um documento do país de origem, que muitos moçambicanos não o possuem. Por essa razão, muitas crianças e jovens de origem moçambicana estão sem documentos, vivendo em situação extremamente difícil.
Quando adoecem, os moçambicanos em situação ilegal pura e simplesmente não vão ao hospital, onde o tratamento passa pela exibição do documento de identidade, por um lado, e pelo receio de serem presos e deportados para o país, por outro.
Esmeralda Massingue refere-se a casos de morte, em que há dificuldades de adquirir certidão de óbito, acabando nalguns casos por os corpos deteriorar-se.
O último e mais recente episódio aconteceu no mês passado. A nossa fonte conta a história de um cidadão moçambicano cujo corpo permaneceu dias na sua residência por falta de documentos e dinheiro para a realização do funeral. Segundo Esmeralda Massingue, o corpo acabou sendo enterrado ao quarto dia, já em avançado estado de decomposição.
Peter Raul Rangel Bazo, moçambicano residente no Zimbabwe
Peter Raul Rangel Bazo, moçambicano residente no Zimbabwe

MÉDICOS CUBANOS AJUDAM MOÇAMBICANOS


Maputo, Quarta-Feira, 7 de Julho de 2010:: Notícias
O primeiro-secretário do Comité de Zona da Frelimo no Zimbabwe, Issufo Carimo, revelou que alguns moçambicanos desfavorecidos que não conseguem enfrentar os preços dos hospitais públicos recorrem aos médicos cubanos que trabalham em hospitais zimbabweanos a pedido do partido.
Disse serem médicos filantrópicos e com boas relações com os moçambicanos, sendo que, mesmo nas suas casas, sem dinheiro e a qualquer hora da noite, atendem os doentes. Vezes sem conta, de acordo com Carimo, “levamos doentes à casa dos médicos cubanos à noite e em estado grave e são prontamente atendidos”.
Mesmo doentes, os moçambicanos sem condições não recebem comida no âmbito de um programa humanitário estabelecido. As organizações doadoras e as autoridades zimbabweanas distribuem alimentos mediante a exibição do Bilhete de Identidade.
Aquando da troca do dólar zimbabweano para o norte-americano, moçambicanos ilegais não puderam o fazer. Muitos deles ficaram com o dinheiro na mão, inválido. Hoje estes não têm como recomeçar a vida, uma vez terem perdido todos os seus recursos acumulados ao longo dos anos.

“TARAMBA CHUINA” AUMENTA A DESGRAÇA


Maputo, Quarta-Feira, 7 de Julho de 2010:: Notícias
A chamada “Operação Taramba Chuina” (negamos sujidade), desencadeada pelo Presidente Robert Mugabe, é outro problema que agravou as já difíceis condições de vida dos moçambicanos no Zimbabwe, segundo Esmeralda Massingue. Os que têm casas e tinham anexos construídos em seus quintais ficaram sem receber as rendas dos inquilinos e os que alugavam esses anexos viram-se ao relento de uma noite para a outra.
Ela conta ainda que face à pobreza, e para a sua sobrevivência, alguns moçambicanos residentes em Kariba (norte do Zimbabwe) se dedicam à pesca no rio Zambeze. Porém, para a sua desgraça, o pescado é lhes “retirado” através de um negócio injusto em que zimbabweanos impõem as modalidades de troca de farinha de milho por peixe.
Segundo conta, os zimbabweanos determinam que por um quilograma de farinha, os pescadores moçambicanos devem entregar cinco quilogramas de peixe. Esta situação, segundo ela, ocorre numa altura em que a referida pesca não é autorizada, sendo que realizam esta actividade à noite, clandestinamente.
Como pescadores furtivos, os moçambicanos não encontram formas de reivindicar ou realizar um negócio justo, porque quando assim o fazem são denunciados às autoridades, o que muitas vezes culmina com a expropriação do seu pescado e destruição do material de pesca.
Para ajudar tais pescadores a melhorar o seu desempenho, Esmeralda Massingue conta que a Embaixada moçambicana em Harare adquiriu recentemente um barco de pesca.
Outro problema que aflige os moçambicanos em Kariba tem a ver com a falta de moageiras. Aqui os nossos compatriotas têm que percorrer mais de 60 quilómetros a pé para encontrar uma moageira.
Esmeralda Massingue
Esmeralda Massingue

ASSOCIAÇÃO TENCIONA RECENSEAR MOÇAMBICANOS


Maputo, Quarta-Feira, 7 de Julho de 2010:: Notícias
A Associação dos Moçambicanos Residentes no Zimbabwe tem em vista um plano de recenseamento dos cidadãos do país vivendo no Zimbabwe. O objectivo deste censo é obter uma informação demográfica detalhada com vista a planificar o que fazer e como fazer algo a seu favor.
Com efeito, de acordo com Esmeralda Massingue, a associação já iniciou contactos com vista à angariação de fundos para financiar a iniciativa.
Para além da Embaixada moçambicana no Zimbabwe, a AMRZ já remeteu o expediente às embaixadas de Portugal e do Brasil e junto à Organização Internacional de Migração (OIM). “Estamos à espera de resposta” – disse Massingue.
O censo está orçado em 178 mil dólares norte-americanos. O mesmo deverá permitir à associação saber o número de emigrantes moçambicanos, onde vivem, como vivem e que dificuldades enfrentam, quantas crianças moçambicanas em idade escolar, onde estão, quantos desempregados e como ganham a vida.
Com vista à realização do censo, a AMRZ, em coordenação com a missão diplomática moçambicana em Harare, já iniciou um programa de mapeamento para identificar as várias comunidades de moçambicanos residentes no Zimbabwe.
  • Víctor Machirica

1 comentário:

Anónimo disse...

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