sábado, 6 de outubro de 2012

Misérias do Exílio

- Os Últimos Meses de Humberto Delgado, por Patrícia McGowan Pinheiro

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É por isso que tudo o que tenho escrito ao longo de quarenta anos sobre o que se passou em Argel tem sido mal recebido ou simplesmente ignorado. Fui avisada constantemente, até hoje, que apesar de minha narrativa ser verdadeira, era sempre inconveniente. Antes do 25 de Abril, ajudava ‘o fascismo’. Até aos anos 80, disseram-me que só podia favorecer os nostálgicos do Estado Novo. Hoje dizem-me que estou a prejudicar o bom nome da ‘resistência’ e ‘ajudar a reacção’.
Houve somente um breve período, nos fins dos anos setenta, quando o ambiente era diferente e a comunicação social mais diversificada, que foi evidente alguma abertura. Havia muito mais debate do que há hoje: era o tempo da Aliança Democrática. O meu primeiro ensaio sobre o ‘caso Delgado’, foi então um best-seller e em seis meses venderam-se muitos milhares de exemplares do livro. A versão impressa do texto agora posto on-line, pelo contrário, foi boicotada; não recebeu qualquer promoção ou publicidade. Não sei quantos exemplares foram vendidos, porque até hoje o editor não me apresentou quaisquer contas.
Foi pena—ou talvez não. Agora existe a internet e uma audiência potencialmente muito maior. Sobretudo, há toda uma nova geração de leitores. E se não tivesse havido aquele boicote, talvez eu não tivesse tido o incentivo para colocar o livro on-line.
O valor histórico do livro consiste, sobretudo, na reprodução, na totalidade, de todos os meus documentos referentes aos acontecimentos narrados. A primeira edição, por pressão de tempo, só trazia extractos de alguns deles. Esta edição também reproduz alguns comentários curiosos incluindo um de Álvaro Cunhal e outro de Pedro Ramos de Almeida. São curiosos porque descaradamente mentirosos, revelando mais uma vez a natureza dessa famigerada ‘superioridade moral dos comunistas’. Cunhal falou de ‘documentos apócrifos’. Ramos de Almeida e o agente russo Ignatiev mentiram escandalosamente sobre o meu passado político e alegada pertença ao Intelligence Service. As palavras dessas figuras são bem reveladoras do seu carácter e das suas motivações.
A verdade sobre o assassinato de Delgado ainda está por descobrir e talvez nunca seja conhecida. A verdade sobre a moralidade e os objectivos de muitos opositores ao Estado Novo já se sabe. Resta agora tirar as conclusões. A minha esperança é de que os textos agora publicados sejam instrumentos úteis dessa tarefa.
NOTA: Obra importante também para o conhecimento dos primórdios dos movimentos de libertação da África portuguesa

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