segunda-feira, 8 de outubro de 2012

GERAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA OU GERAÇÃO DE FRUSTRADOS ? (Réplica à João Mosca)

 

GERAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA OU GERAÇÃO DE FRUSTRADOS ? (Réplica à João Mosca)

Por: Rossana Fernando
Mais uma vez em Moçambique de férias em Nhamatanda, pertinho das cheias, mas com a minha querida familia, depois de mais uma jornada de trabalho e pesquisas pelas vilas mais desfavorecidas do continente Africano eis que deparo-me com os semanários de Maputo, onde a política e os negócios continuam a ser o prato forte desta pátria que me viu nascer e da qual me orgulho.
O texto que mais me interessou foi de um tal de João Mosca, que escreve uma coluna intitulada economicando, intitulado Geração da Independência, li-o três vezes para tentar perceber o alcance do seu texto, que em suma revendicava que, para além das gerações de 8 de Março e do 25 de Setembro, existia uma outra geração da independência. O colunista João Mosca da ainda a perceber nas entrelinhas que ele é parte desta geração da independencia,
Não sou perita de conceptualizações de gerações, mas sei que a geração do 25 de Setembro, a tal geração que lutou e libertou Moçambique do colonialismo tem como ponto de referência o dia 25 de Setembro de 1964, mas as ideias do nacionalismo em Moçambique começaram a vingar entre finais da década 50 e princípios da década de 60. Pela minha humilde percepção esta geração vai até ao ano da independência, ou seja 1975.
A Geração 8 de Março tem o seu ponto mais alto em 1977, no entanto, esta geração vem de antes de 1977, tendo-se tomado o 8 de Março de 1977 como um ponto de referência para uma geração que assegurou a independencia e a reconstrução de um moçambique pós-colonialismo. Esta é a geração que actualmente dirige o país, independentemente se esteve ou não naquela reunião em que o Presidente Samora Machel decidiu que era necessário assumir o desafio de consolidar a independencia nacional, ou se hoje identifica-se ou não com este ou aquele partido.
Mosca assume que há um esquecimento da geração da independencia, a pergunta é: porque é que o 8 de Março de 1977 não pode ser o ponto de referência dessa geração se os propósitos que defende são os mesmos ?
Os porta-vozes da geração 8 de Março provavelmente saiam de uma associação que foi criada por jovens dessa geração cuja adesão não limita a ninguem, muito menos ao Sr João Mosca. Não percebo porque faz uma grande associação entre a geração 8 de Março e aquilo que apelida de nomenklatura. Estará a dividir ou a criar conflitos no seio de uma geração? Com que objectivo ? Que eu saiba uma geração não é um grupinho de pessoas, mas sim toda uma classe de pessoas que vive e marca determinado momento da história.
Que povo é esse que foi esquecido em 1977 quando Samora Machel discursou publicamente fazendo um chamamento à nação para um desafio do momento ?
A nova Geração da Independencia existe na mente do Sr João Mosca, mas tem que perceber que esta geração a que se refere e a que veio logo a seguir tem o epicentro no 8 de Março, uns eram mais velhos outros mais novos, mas era uma geração de jovens que iriam construir os alicerces do Moçambique pós-independencia. Tudo o que diz sobre a geração da independencia que João Mosca alega é o mesmo em relação a geração 8 de Março, envolvimento no projecto nacional de construção de uma nova nação.
Hoje são todos cidadãos na casa dos 50 anos, e tal como bem diz o Mosca muitos tornaram-se ou já eram membros da FRELIMO. Alguns deixaram de o ser, pelo menos desta FRELIMO. Por isso não vejo diferenças e não percebemo o alcance de João Mosca.
Estranhamente João Mosca fala de elites da geração da independencia (vou passar a chamar de sub-geração da independencia para facilitar até a mim própria na interpretação), jovens de origens sociais e raças diferentes, entregaram-se generosamente e mesmo ingenuamente a causas nobres, mesmo que idealistas uma sociedade justa, de igualdade de oportunidades, desenvolvida, moderna, apenas constituída pela raça humana, sem exploração. Não percebi também onde pretende chegar com esta sua discriminação de grupos. Afinal quem eram as elites do pós-independencia sr Mosca ?
As interpretações que existem em torno de algum grupo que o Sr João Mosca tentou criar com o seu texto provavelmente sejam resultado da discriminação que faz e que se fez ao longo dos anos deste grupo em relação aos demais, pensando que eram os senhores todos poderosos do império, achando que eram os únicos e eternos pensadores dessa geração e que só eles chegariam a tal nomenklatura que hoje não reconhecem.
Os pequenos-burgueses, esquerdolas e outras interpretações que o João Mosca faz referência encaixam-se naqueles compatriotas que não estavam interessados na independencia nacional em 1975, mas sim na exploração do novo regime para benefícios próprios. Estes concidadãos colocaram-se cinicamente do lado de Samora Machel e contra o colonialismo pensando que seriam os únicos assimilados que poderiam no futuro tomar conta da nomenklatura, mas para o seu azar esta geração 8 de Março, da qual não assumem, estranhamente, fazer parte, conseguiu provar que é possível viver sem os tais branquelas de esquerda e saudosistas camufulados . Acredito que não é o caso do Sr Mosca que mal conheço, mas é bom que saiba disto.
Não há nenhum espaço para uma geração da independencia quando temos uma geração 8 de Março, não façam confusão na mente dos mais jovens da geração da viragem, sob pena de a cada dia vir a público uma nova Mosca, Mosquito ou Abelha revendicar uma nova geração. Os Portugueses não têm absolutamente nada a ver com os pontos de referência das gerações 25 de Setembro e 8 de Março, a não ser o facto de les terem sido o mote destas gerações. O Dia 25 de Junho é o dia da independencia Nacional e não dia de geração alguma.
O Senhor João Mosca diz que existem nomes da sub-geração da independencia de reconhecido mérito e honradez, mas não cita nenhum. Agradeciamos que nos ajudasse a identificar, quem sabe tenham melhores argumentos para não assumirem que fazem parte da geração do 8 de Março.
A dado passo do seu texto o Senhor João Mosca diz que: A grande maioria, porque não negros e que lutou pelo people empowerment, foi objecto do black empowerment silencioso mas eficaz. A maioria adaptou-se e hoje, possivelmente, agradecem esse black empowerment. Estará a dizer que a grande maioria desta sub-geração da independencia era de não negros? Está a falar de Moçambique ? de Lourenço Marques ?
Definitivamente Sr João Mosca, não tenho poucos receios de dizer que pretende desistabilizar toda uma geração com o seu texto, que é um divisionista de primeira linha, que tem uma elevada dose daquilo que em muitas partes do mundo chama-se dor de cotovelo. Infelizmente estou pouco tempo na Cidade da Beira e não tenho oportunidade de estar em Maputo para conhecê-lo pessoalmente e dizer estas palavras de frente.
Não faço parte de nenhuma elite e talvês esteja também mais para a geração de 8 de Março do que para a “nova” geração da viragem, mas o Sr João Mosca demonstrou no seu texto algumas tendências discriminatórias de alto gabarito. Em alguns países por onde tenho circulado humildemente e com muito esforço pessoas como estas são motivo de uma repreensão muito forte por destrato ao legado dos países. Sei que neste Moçambique que pouco me vê por perto há uma grande libertinagem de imprensa e de opinião que permite que gente frustrada com a independencia e com o desenvolvimento diga em bom som que não há desenvolvimento e que os principais símbolos da Nãção não servem para eles, mesmo sendo pessoas que vivem, ganham salários gordos e abusam usando dinheiros públicos, e ninguem pia.
Sr João Mosca, saudosistas tentam a todo o custo recolonizar Moçambique desde 26 de Junho de 1975, um dia após a proclamação independencia, portanto há 35 anos. Nós os Moçambicanos tivemos mais de 500 anos de colonização, portanto, como pode perceber o nosso timming e o destes cidadãos é diferente. Não me venha hoje com estorietas de geração da independencia com uma maioria de não negros.

Fonte: O País 16.03.2010

Sem comentários: