Mesmo a fechar o ano, brindo vos com esta reflexão do meu amigo Phiri (obrigado por me enviar por email). Espero que 2010 seja melhor que todos os anos que passaram, que a esfera pública progrida no debate de ideias. Que, aqui neste espaço cibernético que cresce todos os dias, aquilatemos as nossas capacidades influenciando o que deve ser a agenda nacional a partir daqui de Moçambique sem andarmos a reboque do que os nossos "parceiros" dizem que deve ser a nossa agenda (sem insultos).
Errand Boys
Têm sido
veiculadas, por uma certa imprensa, notícias que referem que os doadores (G-19),
também designados parceiros, estão a chantagear ao Governo, condicionando a sua
“ajuda” à satisfação das suas exigências. A notícia é veiculada com o maior dos
regozijos e a maior das satisfações dos seus autores! Isto é, está explícita a
felicidade dos nossos compatriotas que veicularam tais informações, como quem
diz: “que bom que o Governo está a ser chantageado pelo G-19”. Estamos muito
atentos a estes moçoilos, mocinhos e moços de recados dos
“doadores”.
É tanta a
felicidade dos Errand Boys que até descrevem com minúcia os termos em que a
chantagem será feita! “Se não se fizer isto deste modo e aquilo daqueloutro
modo, a ajuda será cortada”! Mete pena ver moçambicanos a regozijarem-se pelo
facto de os seus patrões estarem a chantagear o Governo do país que também é
deles. Há não muito tempo recusaram-se terminantemente que estavam ao serviço de
interesses estrangeiros. O que é que estão a fazer quando aceitam ser usados
como moços de recados? A que interesses servem quando nos brindam e se regozijam
com notícias que dão conta de que os seus patrões vão chantagear o
governo?
Há nestes
recados uma questão ética que pode ser levantada. Se é de diálogo que estamos a
falar, e se esse diálogo está a ser feito com o Governo de um Estado soberano,
porque esse diálogo tem que vir através dos Errand Boys? Os nossos amigos, os
tais parceiros, esqueceram-se do endereço do Ministério dos Negócios
Estrangeiros ou do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Como se espera
que o Governo de um país deva reagir perante condições humilhantes a si
colocadas através da imprensa?
Esta gafe ética
pode não ser de todo inocente. Ela pretende transmitir aos moçambicanos de que
os tais parceiros têm mais desvelo pelo bem estar do país do que o Governo do
país. Pretendem transmitir a ideia de que os parceiros ocidentais amam mais
Moçambique do que os moçambicanos. O que é obviamente falso, sendo esta
realidade conhecida pelos tais parceiros e os seus moços de recado. Por este
andar, não falta muito que os nossos moços de recados nos venham dizer que
quando os seus patrões colonizaram África fizeram-no porque amavam África mais
do que os próprios africanos. Façam-nos um favor amigos: poupem-nos desses
vossos ataques histéricos de anti-patriotismo.
Podemos
imaginar o resto da chantagem que os tais parceiros trazem. Dir-nos-ão que o
nosso desempenho na luta contra a pobreza é fraco. E que se não melhorarmos até
Março nos cortam a ajuda. Este absurdo ultimato parte do pressuposto de que
estes nossos amigos estão mais preocupados com a nossa pobreza do que nós. Que
tudo o que nós estamos a fazer para melhorar a nossa vida, tanto no campo como
na cidade, fazemo-lo porque os doadores exigem. Que monstruosa
presunção!
Virão dizer-nos
que a nossa lei eleitoral não é satisfatória e que se ela não melhorar até Março
nos cortam a ajuda. Esta grosseira condição ignora o esforço que as forças
políticas deste país vêm fazendo desde o alcance da paz. A Conferência
Multipartidária dos princípios da década 90 tinha como um dos seus objectives
encontrar procedimentos eleitorais consensuais. Estes consensos continuaram a
ser construídos na primeira, segunda e terceira legislaturas multipartidárias
quando as forças políticas no parlamento procuraram incessantemente, aperfeiçoar
a sua lei eleitoral, tomando também em conta as recomendações do Tribunal
Supremo, do Conselho Constitucional, dos órgãos eleitorais, dos observadores
nacionais, da academia e dos observadores externos. Essa busca incessante do
consenso não foi determinada por chantagens de doadores nem por recados dos seus
Errand Boys acoitados em alguns sectores do jornalismo moçambicano. Este país
continuará a aperfeiçoar a sua lei eleitoral independentemente de chantagens e
de recadinhos.
Não precisamos
que “doadores” nos venham dizer o que carece de melhorias. Somos lúcidos o
suficiente para percebermos o que está mal e carece de melhorias.
A “ajuda” não
os dá o direito de nos chantagearem. Já podemos imaginar a pressão que será
feita ao Governo que será formado no ano de 2010. Vão querer impô-lo agendas e,
caso tais agendas sejam recusadas, a chantagem será a de que a “ajuda” será
cortada. Vão se esquecer estes nossos amigos que houve um manifesto eleitoral
que foi votado por mais de 70% dos votantes. Para eles o que interessa são as
suas agendas e não a agenda dos moçambicanos.
Mas que fiquem
claros sobre uma coisa: se não querem cooperar connosco, que não cooperem! Os
moçambicanos não são servos dos doadores. Parem de nos ameaçar. E digam aos
vossos moços de recados para pararem de nos transmitirem os vossos recados. Se
querem cooperação, que seja por bem. Que fique bem claro que tudo que for
melhorado no próximo quinquénio sê-lo-á por mérito dos moçambicanos. Não
precisamos que venham pessoas de fora para nos lembrar que temos que resolver os
nossos problemas. Nem precisamos que nos mendem recados através dos seus Errand
Boys.
Cooperação
sim, chantagem não.
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