quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Errand Boys - Cooperação Sim, Chantagem Não!!

Mesmo a fechar o ano, brindo vos com esta reflexão do meu amigo Phiri (obrigado por me enviar por email). Espero que 2010 seja melhor que todos os anos que passaram, que a esfera pública progrida no debate de ideias. Que, aqui neste espaço cibernético que cresce todos os dias, aquilatemos as nossas capacidades influenciando o que deve ser a agenda nacional a partir daqui de Moçambique sem andarmos a reboque do que os nossos "parceiros" dizem que deve ser a nossa agenda (sem insultos).


Errand Boys
Por: Tadeu Phiri
Têm sido veiculadas, por uma certa imprensa, notícias que referem que os doadores (G-19), também designados parceiros, estão a chantagear ao Governo, condicionando a sua “ajuda” à satisfação das suas exigências. A notícia é veiculada com o maior dos regozijos e a maior das satisfações dos seus autores! Isto é, está explícita a felicidade dos nossos compatriotas que veicularam tais informações, como quem diz: “que bom que o Governo está a ser chantageado pelo G-19”. Estamos muito atentos a estes moçoilos, mocinhos e moços de recados dos “doadores”.
É tanta a felicidade dos Errand Boys que até descrevem com minúcia os termos em que a chantagem será feita! “Se não se fizer isto deste modo e aquilo daqueloutro modo, a ajuda será cortada”! Mete pena ver moçambicanos a regozijarem-se pelo facto de os seus patrões estarem a chantagear o Governo do país que também é deles. Há não muito tempo recusaram-se terminantemente que estavam ao serviço de interesses estrangeiros. O que é que estão a fazer quando aceitam ser usados como moços de recados? A que interesses servem quando nos brindam e se regozijam com notícias que dão conta de que os seus patrões vão chantagear o governo?
Há nestes recados uma questão ética que pode ser levantada. Se é de diálogo que estamos a falar, e se esse diálogo está a ser feito com o Governo de um Estado soberano, porque esse diálogo tem que vir através dos Errand Boys? Os nossos amigos, os tais parceiros, esqueceram-se do endereço do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou do Ministério de Planificação e Desenvolvimento? Como se espera que o Governo de um país deva reagir perante condições humilhantes a si colocadas através da imprensa?
Esta gafe ética pode não ser de todo inocente. Ela pretende transmitir aos moçambicanos de que os tais parceiros têm mais desvelo pelo bem estar do país do que o Governo do país. Pretendem transmitir a ideia de que os parceiros ocidentais amam mais Moçambique do que os moçambicanos. O que é obviamente falso, sendo esta realidade conhecida pelos tais parceiros e os seus moços de recado. Por este andar, não falta muito que os nossos moços de recados nos venham dizer que quando os seus patrões colonizaram África fizeram-no porque amavam África mais do que os próprios africanos. Façam-nos um favor amigos: poupem-nos desses vossos ataques histéricos de anti-patriotismo.
Podemos imaginar o resto da chantagem que os tais parceiros trazem. Dir-nos-ão que o nosso desempenho na luta contra a pobreza é fraco. E que se não melhorarmos até Março nos cortam a ajuda. Este absurdo ultimato parte do pressuposto de que estes nossos amigos estão mais preocupados com a nossa pobreza do que nós. Que tudo o que nós estamos a fazer para melhorar a nossa vida, tanto no campo como na cidade, fazemo-lo porque os doadores exigem. Que monstruosa presunção!
Virão dizer-nos que a nossa lei eleitoral não é satisfatória e que se ela não melhorar até Março nos cortam a ajuda. Esta grosseira condição ignora o esforço que as forças políticas deste país vêm fazendo desde o alcance da paz. A Conferência Multipartidária dos princípios da década 90 tinha como um dos seus objectives encontrar procedimentos eleitorais consensuais. Estes consensos continuaram a ser construídos na primeira, segunda e terceira legislaturas multipartidárias quando as forças políticas no parlamento procuraram incessantemente, aperfeiçoar a sua lei eleitoral, tomando também em conta as recomendações do Tribunal Supremo, do Conselho Constitucional, dos órgãos eleitorais, dos observadores nacionais, da academia e dos observadores externos. Essa busca incessante do consenso não foi determinada por chantagens de doadores nem por recados dos seus Errand Boys acoitados em alguns sectores do jornalismo moçambicano. Este país continuará a aperfeiçoar a sua lei eleitoral independentemente de chantagens e de recadinhos.
Não precisamos que “doadores” nos venham dizer o que carece de melhorias. Somos lúcidos o suficiente para percebermos o que está mal e carece de melhorias.
A “ajuda” não os dá o direito de nos chantagearem. Já podemos imaginar a pressão que será feita ao Governo que será formado no ano de 2010. Vão querer impô-lo agendas e, caso tais agendas sejam recusadas, a chantagem será a de que a “ajuda” será cortada. Vão se esquecer estes nossos amigos que houve um manifesto eleitoral que foi votado por mais de 70% dos votantes. Para eles o que interessa são as suas agendas e não a agenda dos moçambicanos.
Mas que fiquem claros sobre uma coisa: se não querem cooperar connosco, que não cooperem! Os moçambicanos não são servos dos doadores. Parem de nos ameaçar. E digam aos vossos moços de recados para pararem de nos transmitirem os vossos recados. Se querem cooperação, que seja por bem. Que fique bem claro que tudo que for melhorado no próximo quinquénio sê-lo-á por mérito dos moçambicanos. Não precisamos que venham pessoas de fora para nos lembrar que temos que resolver os nossos problemas. Nem precisamos que nos mendem recados através dos seus Errand Boys.
Cooperação sim, chantagem não.

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