quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ensino Superior: servir as massas ou a elite?

 - questiona Lourenço do Rosário, docente universitário
Escrito por Emídio Beúla
As universidades constituem espaço da elite estritamente intelectual e académica, por isso a elas devem aceder os mais capazes, porque é com eles que a sociedade deve avançar. Esta foi a tese defendida por Lourenço do Rosário na conferência de dois dias (15 e 16 de Outubro) que discutiu em Maputo o ensino superior em Moçambique e celebrou os 50 anos da sua institucionalização.
O docente universitário e reitor da Universidade Politécnica fez notar que a “elitização” dos cidadãos não se opera no espaço universitário onde eles buscam formação, mas fora dele.

Em 50 anos de ensino superior, Moçambique conta actualmente com 44 instituições deste subsistema de educação. A média aproximada de uma instituição por ano pode transmitir a ideia de “massificação” do ensino superior. Ainda que seja essa a opção do Estado, Lourenço do Rosário analisa que ter 110 mil estudantes no nível superior, num universo de 23 milhões de cidadãos, “demonstra quão distante está o desejo e a concretização do desejo”.
Mais ainda, os 110 mil estudantes do ensino superior representam 0,9% do universo dos estudantes de todo o sistema da educação. O desiderato virtual de acesso ao ensino superior para todos os cidadãos não faz com que efectivamente todos acedam a esse nível de ensino. As razões não se prendem apenas com a questão de políticas públicas. O reitor da Universidade Politécnica assinala também a “fragilidade económica e financeira” que não permite que o desejo de massificar o ensino superior se concretize.

Elite especial
Ainda assim, o facto não impede que no seio da sociedade surjam opiniões que questionem a opção pela “massificação”. Lourenço do Rosário avança o principal argumento: “ao longo da história da humanidade, sempre se comprovou que a educação superior se concretiza através de um processo de crivo, em que a “elitização” dos que acedem a esses níveis se torna natural”.
À pergunta se os estudos superiores devem ser para as massas ou para a elite, o orador responde afirmando que quando um grupo social se organiza, cria um sistema organizacional que inclui os estudos superiores. Esses desempenham a função de vanguarda na busca permanente do conhecimento e na formação adequada dos cidadãos para perseguir com ética e competência os caminhos do desenvolvimento.
“No fundo, as universidades são aparentemente um espaço da elite, mas não são uma elite económica, nem empresarial, nem política, militar, mas sim uma elite estritamente intelectual e académica, que não poucas vezes tem os recursos de sobrevivência estritamente necessários para o dia-a-dia”, diz o professor.
Nessa ordem de ideias, os académicos, os verdadeiros operadores do espaço académico, constituem uma elite especial, porquanto desenvolvem actividades especiais na sociedade. “Ao espaço universitário devem aceder os mais capazes, porque é com eles que a sociedade deve avançar”, sublinha. Ainda assim, Lourenço do Rosário faz notar que a “elitização” dos cidadãos não se opera dentro do espaço universitário - onde o cidadão é um simples aprendiz, mas fora dele. O cidadão pode ser cooptado fora do espaço do ensino superior e integrar as várias elites do poder. Mas este não é problema da universidade, esclarece.

Função social da educação superior
A educação superior é um bem público, declara o comunicado final da conferência mundial sobre o ensino superior, organizada em Paris pela UNESCO, em Julho de 2009.
Para Lourenço Do Rosário, a declaração quer dizer que a essência da educação superior é estar a serviço das comunidades, permitindo que seus membros usufruam do conhecimento por si produzido e transmitido.
Mesmo diante de desafios complexos, actuais e futuros, é responsabilidade da educação superior avançar o conhecimento sobre as mais diversas questões que envolvem dimensões culturais, científicas, económicas e sociais.
Porém, por constituírem um processo imanente de cada grupo social, os estudos superiores respondem ao grau de desenvolvimento em que cada grupo se encontra.

Origens
Não se pode determinar um marco no tempo de quando surgiram os estudos superiores, porque eles sempre existiram nas sociedades, diz o professor universitário. E eles enquadravam-se no universo cultural da comunidade, sendo por isso um património de toda a sociedade. “(…) o acesso ao conhecimento tomava a configuração ritualística secreta e a sua transmissão fazia-se segundo a fórmula de revelação”, diz, explicando que através deste processo operava-se também a subida e o posicionamento de cada um na hierarquia organizativa da sociedade.
Com o evoluir da organização das comunidades em grupos sociais mais complexos, como sejam os Estados e respectivas formas de governação, os estudos sociais passaram a ser alvo de especial atenção de diversos pólos do poder.
Surgem as escolas vocacionais de educação superior, onde se aliavam as tarefas de busca de novos conhecimentos em prol do melhor domínio da natureza e salvação, mas também onde se acederia ao conhecimento acumulado e sistematizado por buscas anteriores. O conhecimento era debitado em função do seu instituidor, fosse ele o Estado, o mecenas ou as corporações.

Autonomia
Por reconhecer a força que tem, o seu peso específico no contexto das várias instituições e organizações em cada Estado, a educação superior sempre insistiu na sua autonomia académica e científica. Na verdade, o professor universitário explica que a congregação dos estudos superiores em escolas e institutos, centros ou faculdades foi sempre acompanhada por pressões atentatórias ao princípio da autonomia. “Os pressupostos são díspares, mas o fim é sempre o mesmo, pois quem controla o centro do saber, controla o próprio poder”.
Desde a antiguidade que a relação entre as instituições do Estado e as elites do saber sempre mantiveram uma relação de mútua emulação que vai de interesse e atracção para uma forte rejeição. Essa última surgiu quando “as diversas especialidades de estudos especiais começaram a sentir-se acossadas pelo poder”, no sentido de lhes controlar o produto, que era o conhecimento, e controlar o pensamento dos seus membros, bem como dos seus formandos. Foi assim que as mesmas decidiram juntar-se e formar corporações a que denominam de Universidade, “O universo dos mestres e dos discípulos”.
Portanto, conclui, as universidades surgem como uma associação livre a partir das diversas áreas de saber do estudo superior, em que mestres e discípulos, da investigação e pesquisa, professores e alunos da formação, se juntaram para perseguirem objectivos comuns. “E o lema era servir o Estado e a sociedade sim, mas com liberdade”.

1 comentário:

Anónimo disse...

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