quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Embaixador da Itália em Moçambique viajava a Gorongosa para convencer Dhlakama”

Embaixador da Itália em Moçambique viajava a Gorongosa para convencer Dhlakama”
Tomás Vieira Mário, um dos jornalistas que cobriram as negociações de paz em Roma
Em face da resistência do líder da Renamo para assinar o acordo.
Numa entrevista sobre a experiência de cobertura jornalística das negociações de paz, Tomás Vieira Mário diz que o ambiente vivido entre as delegações foi inicialmente de tensão, mas os mediadores souberam quanto cedo “debelar” o fogo.
Qual era o ambiente das negociações?
O ambiente foi tendo facetas diferentes ao longo dos anos. Foram mais de dois anos. No início, era de tensão porque cada parte diabolizava a outra. Mesmo para haver um aperto de mão em 1990 entre Guebuza e Dhlakama foi difícil. O que tornou possível a convivência foi a natureza da mediação. Havia uma exaltação da informalidade, não havia aquele rigor típico duma mediação. Este acordo que, inicialmente, era visto como de fraqueza, mais tarde tornou-se um aspecto forte. Quando havia uma tensão, uma saturação, os mediadores, estrategicamente, interrompiam as sessões e as delegações tomavam um chá. Havia uma bananeira onde os moçambicanos se sentavam e tomavam chá e, assim, reviviam o seu ambiente doméstico que levavam da terra natal. Se estamos recordados, estes mediadores eram, na sua maioria, religiosos da Igreja Católica, D. Jaime Gonçalves, D. Matteo Zuppi e Andrea Riccardi. Portanto, são pessoas com muita formação em contenção, prudência, calma e absorção da tensão.
Era frequente a convivência entre as duas delegações?
Fora do âmbito da Comunidade Sant´Egídio, não era frequente. Mas aconteceu uma e única vez em que o ministro dos Transportes e Comunicações, Armando Guebuza, e o Chefe do Departamento das Relações Exteriores da Renamo, Raul Domingos, saíram para almoçar num restaurante indicado pelos mediadores. Estes entendiam que esse tipo de práticas ajudava a convivência entre os outros. Os mediadores ficaram próximo do restaurante para vigiar e ver se algum deles abandonava o local. Mas, segundo nos contaram “a posterior”, jantaram bem e ninguém abandonou o local. Este é o único momento, que eu me recorde, em que confraternizaram.
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