terça-feira, 16 de outubro de 2012

E se o grande orador Obama for simplesmente mau em debates?

Presidenciais nos EUA

                           

16.10.2012 - 18:42 Por Kathleen Gomes, em Washington
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"Há uma grande diferença entre fazer um discurso e estar no palco de um debate", diz Alan Schroeder"Há uma grande diferença entre fazer um discurso e estar no palco de um debate", diz Alan Schroeder (Mandel Ngan/AFP)
Após o fracasso no seu primeiro debate televisivo com Mitt Romney, o Presidente americano prometeu "mais actividade" para esta terça-feira à noite no embate com o seu adversário republicano.

Quando o segundo debate presidencial americano começar, esta noite, os apoiantes de Barack Obama vão estar à espera de uma espécie de redenção. A passividade do Presidente no último debate contra Mitt Romney foi um choque. Por que é que não empregou linhas de ataque que pareciam tão óbvias a toda a gente? Por que é que passou grande parte do tempo a olhar para as suas notas em vez de encarar o adversário republicano? Como é que não olhou para a câmara quando fez a sua declaração final apelando aos americanos que votassem nele? O que é que ele estava a pensar?

Os operativos da sua campanha, que na última semana e meia passaram da fase da negação à aceitação ("Obviamente, o Presidente ficou desapontado com o seu desempenho. Ele não cumpriu as suas próprias expectativas", disse à CNN Robert Gibbs, assessor da campanha de reeleição de Obama), ofereceram várias defesas, nomeadamente o facto de o Presidente ter sido apanhado de surpresa pela reinvenção de Romney como um candidato moderado durante o debate, rejeitando ou negando propostas que fizera antes.

Mas, depois da poeira assentar, uma outra teoria emergiu das análises do primeiro debate: e se Obama não esteve muito bem simplesmente porque ele não é muito bom em debates? A expectativa era que o Presidente americano, reconhecido como um orador extraordinário pelas suas comunicações públicas, dominasse o debate, mas, como diz ao PÚBLICO Alan Schroeder, autor de um livro sobre a história dos debates presidenciais, Presidential Debates: Fifty Years of High-Risk TV, "há uma grande diferença entre fazer um discurso e estar no palco de um debate". E debater "não é um talento natural" para Obama, nota este professor de Jornalismo na Northeastern University, em Boston.

Mas surpreendeu-o que o Presidente parecesse tão "ausente" no primeiro debate. "Normalmente, ele tem uma abordagem mais intelectual do que emocional sobre as coisas. Mas ele nem sequer pareceu muito envolvido [no debate] intelectualmente. A minha impressão é que ele não queria estar ali." Romney, por outro lado, foi para o debate melhor preparado. "Ele percebeu a importância do momento e levou-o mais a sério."

Lento "a disparar"

James Fallows foi o único que antecipou que o debate poderia ter o resultado que teve, na revista The Atlantic, em Setembro. Depois de ver todos os debates em que Romney participou na sua carreira política (do Massachusetts às primárias republicanas no início deste ano), este veterano jornalista que escreveu discursos para o Presidente Jimmy Carter concluiu que os debates são "o seu forte", ao contrário de Obama.

Há quatro anos, durante as primárias democratas, Hillary Clinton foi mais forte do que Obama nos debates e quando chegou a altura de debater com o seu rival republicano, a campanha de John McCain já estava em queda livre.

Dois dias depois do primeiro frente-a-frente entre Obama e Romney, David Remnick, um biógrafo do Presidente americano, assinou um artigo na revista The New Yorker em que ex-colegas e professores de Obama na Faculdade de Direito de Harvard notavam que ele não era particularmente bom em debates, mesmo nesse período. O reverendo de uma igreja baptista na Zona Sul de Chicago, onde Obama trabalhou como organizador comunitário na década de 1990, disse a Remnick que a personalidade do Presidente sempre foi "contemplativa". No duelo que é um debate televisivo, ser contemplativo pode ser fatal porque, nota o reverendo Alvin Love, faz a pessoa em questão parecer "menos rápida a disparar".

David Maraniss, outro biógrafo de Barack Obama, sugere que os debates não são um fórum natural para Obama por causa da sua tendência para evitar o confronto. Num artigo no Washington Post, este fim-de-semana, Maraniss nota que, tendo crescido como um rapaz bi-racial, Obama aprendeu a negociar a sua transição entre diferentes culturas (uma família branca e a cultura afro-americana, Havai e Indonésia, etc.) e isso inscreveu nele um carácter muito mais conciliatório do que antitético. No New York Times, a colunista Maureen Dowd notou que o desempenho de Obama no primeiro debate corresponde a um padrão que tem dominado a sua presidência. Como não gosta do confronto, ele tem tendência para recuar e deixar os seus opositores ganharem fôlego. Foi o que aconteceu com o debate sobre a reforma do sistema de saúde, responsável pela ascensão do Tea Party.

Toda a gente espera que um outro Obama apareça no debate desta noite - mais parecido com o homem que, desde então, tem sido vigoroso nas suas críticas a Romney nos eventos de campanha, usando ironia e insinuando que o candidato republicano é desonesto.

Numa entrevista, Obama prometeu "mais actividade" no debate de hoje. Mas o formato - um fórum em que o público na sala faz perguntas - é pouco propício a um Obama em modo de ataque. O modelo costuma privilegiar as manifestações de empatia dos candidatos para com as ansiedades e esperanças do americano comum, e não farpas pré-ensaiadas contra o adversário. "Ele falhou a sua oportunidade para ser agressivo no primeiro debate", nota Alan Schroeder. "Mas acho que vai trabalhar mais para mostrar o contraste entre ele e Mitt Romney. Ficaria extremamente surpreendido se ele fosse tão mau [como no primeiro debate]." Em Washington

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