quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Durante Guerra Civil Moçambicana

Multinacional tinha poderes de decisão sobre operações militares contra a Renamo

Sundy_bloody_sunday_capa Durante Guerra Civil Moçambicana
· Lomaco dispunha de milícia privada que incluía mercenários Gurkhas
A Lomaco, empresa multinacional formada pela LONRHO (London-Rhodesia) de Tiny Rowlands e pelo regime da Frelimo durante a guerra civil moçambicana, dispunha de uma milícia privada que operava nas regiões de Chókwè, Metuchira e Montepuez. Comandada por oficiais britânicos e do antigo exército do regime de Ian Smith, a milícia da Lomaco incluía ainda os chamados Gurkhas, mercenários originários do Nepal e que desde os princípios do século dezanove têm vindo a lutar ao lado das Forças Armadas britânicas em diversos conflitos militares, nomeadamente na Índia, China, Afeganistão, Malásia, Chipre, durante as Guerras Munidas de 1914-1918 e 1939-1945, e mais recentemente no Iraque e Afeganistão.
A revelação foi feita por um antigo comando pára-quedista rodesiano, Jake Harper-Ronald, num livro de memórias recentemente publicado sob o título, «Sunday Bloody Sunday». O autor foi contratado pela Lomaco em Agosto de 1989 para chefiar a milícia que guarnecia os empreendimentos agrícolas da empresa multinacional em Chókwè, Província de Gaza. Antes de ter sido contratado pela Lomaco, Jake Harper-Ronald era funcionário do serviço de segurança zimbabweano, CIO (Central Intelligence Organization). Durante a guerra da independência do Zimbabwe, Jake Harper-Ronald integrou a unidade de comandos pára-quedistas, SAS (Special Air Service) e mais tarde os Selous Scouts em operações desencadeadas contra bases do ZANLA em Moçambique.

Em Chókwè, Jake Harper-Ronald operou em estreita colaboração com o Major General Domingos Fondo das FAM-FPLM.
Conta o autor de «Sunday Bloody Sunday» que a milícia privada da Lomaco, designada de Força Especial foi treinada em Nacala com fundos do governo britânico na altura dirigido por Margaret Thatcher. O autor salienta que “para disfarçar os esforços feitos pelo governo britânico, foi enviado pessoal da Defense Systems Limited (DSL)” para aquela cidade portuária no norte de Moçambique. “A Forca Especial”, acrescenta Harper-Ronald no seu livro de memórias, “era um misto de ex-Flechas e de soldados da Frelimo”, e “estava equipada com espingardas automáticas usadas pelo exército britânico. Do tipo SA80, essas espingardas estavam dotadas de óculos de visão nocturna da última geração.” Harper-Ronald refere ainda que “para manter a aparência de que as tropas britânicas prestavam apoio ao governo moçambicano, todo o pessoal da DSL era constituído por membros do Regimento 22-SAS ou do Regimento de Pára-quedistas, e enquanto permanecessem em Moçambique tinham de envergar uniformes militares britânicos, mas caso surgisse uma situação embaraçosa para o Governo de Sua Majestade, a DSL poderia arcar com as responsabilidades” perante a opinião pública. A morte do oficial britânico, Jim Shand, em Gaza, nunca viria, porém, a ser noticiada. Shand seria substituído por um outro oficial britânico treinado na Academia Militar de Sandhurst. Por seu turno, esse oficial, que o autor não identifica, seria substituído por Allan Shaw, um ex-coronel do regimento de Infantaria Ligeira da Rodésia (RLI) e que depois da independência do Zimbabwe passou a comandante to 1° Batalhão de Comandos do Exército Nacional do Zimbabwe (ZNA).
De Chókwè, Jake Harper-Ronald viria a ser transferido para uma outra unidade da milícia privada da Lomaco em Montepuez. Nesta
região de Cabo Delgado a subsidiária da multinacional britânica, LONRHO, recrutou soldados mercenários Gurkha, através da Gurkha Security Guards Limited (GSG) para protecção de unidades agrícolas nas regiões de Montepuez e Nropa e guarnecimento de colunas militares que escoavam o algodão aí produzido para o porto de Pemba. Conta o autor de «Sunday Bloody Sunday» que as operações militares lançadas pela Força Especial contra a guerrilha da Renamo em regiões de Cabo Delgado integrando as concessões agrícolas da Lomaco careciam de autorização expressa da administração desta empresa.
CANALMOZ – 18.09.2009

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