sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Dois meses sem raptos nem mandantes…

Editorial
 
Maputo (Canalmoz) – Passam quase dois meses depois que Armando Guebuza foi forçado a reunir-se com os membros do “Movimento Islâmico” e prometê-los que iria “se envolver acima do normal (sic Amad Camal)” no combate aos raptos.
Um mês e três semanas depois do último rapto, efectivamente ainda não houve relato de novo rapto de empresários e seus familiares, mas também ainda não houve esclarecimento dos mandantes dos raptos, senão detenção de dezenas de jovens de famílias pobres, que foram publicamente exibidos pela Polícia como os operacionais dos raptos.
Será que os empresários que são as vítimas preferenciais dos raptores, assim como toda a sociedade, poderão respirar de alívio, que efectivamente a situação dos raptos está controlada? É que não basta prender os pobres dos operacionais dos raptos, é preciso que os mandantes sejam identificados, presos, julgados e condenados. A justiça não pode continuar infalível para os pobres e inoperante para os ricos.
Dezenas de jovens pobres estão detidos pela Polícia e foram apresentados publicamente à Imprensa como os operacionais de rapto. Mas os mandantes, que são gente com dinheiro e poder – pelo menos a avaliar pela capacidade que têm de liderar os raptos e manter-se ocultos – ainda não chegaram.
Tudo o que se viu até aqui é a transferência de empresários presos na cadeia de máxima segurança para o Comando da Polícia da cidade de Maputo, alegadamente suspeitos de estarem envolvidos nos raptos; Houve também detenção e rápida libertação de um jovem empresário acusado de ser mandante dos raptos, mas nada que esclarecesse a origem deste crime.
Há quem diga ainda que tanto a transferência de uns como a detenção de outro, foi tudo engendrado por grupos empresariais rivais, que provavelmente estão envolvidos nos raptos e querem se “lixar” entre si, e a Polícia dividida em grupos foi paga para transferir uns, assim como para prender outro.
Sabe-se que o jovem empresário detido, posteriormente solto, foi detido sem o conhecimento do Comandante da Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Maputo, Abel Nuro. Consta ainda que quando o mandado estava a ser executado, a família do empresário telefonou ao comandante da Polícia a informá-lo que a casa estava a ser invadida pela Polícia e este mandou um efectivo policial para o local, que foi se deparar com um mandado passado por juiz. A justificação que houve para esta descoordenação entre a Polícia é de que a captura do empresário foi uma acção ultra-secreta, mas há outra informação que indica que tudo foi conduzido por um grupo de policiais, pagos por um empresário, para prender outro empresário.
Tudo é possível quando os factos tendem a provar que a Polícia está envolvida em alta corrupção e a servir quem tem dinheiro e não ao Estado que jurou servir. Uma destas evidências é que no caso dos raptos, só se prende e se julga, publicamente na Imprensa, pobres, os empresários ricos, quando detidos, são mantidos a sete chaves.
Estaremos a interferir no trabalho da Polícia? Devemos “deixar a Polícia trabalhar”, como sói dizer-se? Pensamos que não! Como acreditar nesta Polícia com dualidades de critérios? Que prende uns e apresenta-nos publicamente e a outros esconde; Como deixar trabalhar uma Polícia que é pago por empresários para prender outros empresários? Como não desconfiar de uma Polícia que sistematicamente prende para depois investigar?
A esta Polícia não só podemos como devemos desconfiar.
Que os raptos pararam é verdade, mas resta saber até quando, e claro, responsabilizar os autores morais e materiais, não só os pobres incapazes de se defender.
De facto, o último rapto de empresários ou seus familiares aconteceu no início da noite de uma quinta-feira, 23 de Agosto de 2012. A vítima foi uma jovem de 18 anos, de nome Hina Faruque Ayob, filha de Faruque Ayob, um dos donos da Ayob Comercial. Terá sido este o último? Certamente que o desejo de todos os moçambicanos é que seja, sim, o último, mas enquanto não se esclarecer quem está por detrás deste crime, é difícil acreditar que raptos não mais haverão.
Como se diz na sabedoria popular, “o mal se corta pela raiz”. (Canalmoz/Canal de Moçambique)

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