quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cinismo e maquiavelismo político

 

Coisas da nossa terra porEdwin Hounnou
Enquanto decorria o X Congresso do partido Frelimo, de 23 a 28 de Setembro, na cidade de Pemba, em Cabo Delgado, a sala repleta de delegados, convidados nacionais e estrangeiros ouviam discursos hipócritas que insinuavam que aí se discutia o aprofundamento do sistema democrático, em Moçambique, enquanto pelas províncias e municípios polícias prendiam, torturavam e encarceravam nas masmorras do regime membros da oposição que não faz a genuflexão ao "glorioso" partido. A nossa democracia está bem escrita na Constituição, porém, ignorada na vida quotidiana.
A Polícia prende e recolha às celas elementos da oposição para dar vantagens ilícitas ao partido no poder, como aconteceu na intercalar de Inhambane, a 18 de Abril de 2012.
Os desenvergonhados juízes com cartões vermelhos entre as togas esforçam-se em provar a sua fidelidade canina ao partido no poder, não se cansando em mandar notificar elementos da oposição que persiste em hastear a bandeira do seu partido em lugares "proibidos”ou que tiveram o Cinismo e maquiavelismo político atrevimento de tentar fazer escorregar o suposto “cinquentanário" partido, na eleição intercalar de Inhambane e nas frequentes escaramuças nos municípios de Tete, Catandica e Chimoio. A Polícia, para mostrar que “estamos juntos”,ao invés de reprimir os que violam a lei, sejam eles do partido governamental ou não, encarcera membros da oposição pelo facto de serem diferentes. Enquanto persistirem tais práticas, ninguém vai respeitar a Polícia.
Seria um contra-senso aceitar o convite ao congresso, enquanto, nas províncias e municípios, a oposição não pode hastear, livremente, a sua bandeira.
Significaria conviver à vontade, apenas, no congresso e, às escondidas, nos locais de residência e de trabalho. Elementos da oposição têm medo de ir às repartições públicas porque se sentem em terreno "inimigo”, correndo o risco de desconseguiremo que pretendem, se a sua intenção for de tratar algum expediente. Ser da oposição, no país, é um risco que aumenta na medida em que mais se afasta de Maputo. A oposição sente o peso de discordar do partido/Estado. Até para ter emprego impõe-se que seja portador do cartão do partido no poder.
O Movimento Democrático de Moçambique tem vindo a gastar muito dinheiro em pagar caução aos tribunais para permitir que seus elementos possam aguardar o julgamento fora das grades devido a acusações estúpidas e absurdas. De todas as províncias do país fez deslocar 53 membros para o Tribunal de Inhambane a fim de estarem presentes ao julgamento por terem sido, selectivamente, presos pela Força de Intervenção Rápida que, na intercalar de Inhambane, invadiu, com carros de assalto, as assembleias de voto para garantir a vitória do candidato da Frelimo e o tribunal politizado abre as alas para o partido no pode passar.
Não se pode aceitar sentar à mesma mesa, apenas para ficar bem na fotografia, enquanto nos tribunais alguns juízes fazem julgamentos, evidentemente, políticos.
CORREIO DA MANHÃ – 17.10.2012

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