terça-feira, 23 de outubro de 2012

“Apoiar agricultura não é actividade da banca comercial”


Mário Machungo
O PCA do Millennium bim diz que “tem de haver uma banca especializada para apoiar a agricultura em Moçambique”. Em entrevista à Stv e ao “O País Económico”, Mário Machungo fala da economia nacional, do papel do bim, e em particular da realização de uma palestra sobre a liderança
O Millennium bim lançou, recentemente, o serviço prestígio, com foco nas camadas altas da sociedade. Será uma reorientação do banco?
É a continuação de uma política de desenvolvimento do banco. O segmento prestígio tem, na sua origem, a identificação de necessidades específicas dos nossos clientes, em particular empresas, que não só precisam de produtos e serviços adequados aos seus perfis, mas esperam do banco um atendimento personalizado. É deste modo que a proposta de valor do Millennium Prestígio assenta no pilar gestor do cliente e no gestor do colaborador, dedicado a servir uma carteira de clientes sofisticados, acompanhando a evolução dos negócios, e preparado para dar um contributo aos clientes. Isto é um ajustamento à evolução normal do mercado.
Qual foi o desempenho do Millennium bim no primeiro semestre?
Em termos de posse de clientes, tínhamos 50 mil milhões de meticais, até Setembro de 2012. Em termos de crédito, temos 36 mil milhões de meticais e temos capitais próprios bastante substantivos. Até ao primeiro semestre, tínhamos 150 balcões, o que representa a maior rede bancária em Moçambique. As metas do crescimento do bim passam, também, pelo investimento em canais alternativos, como internet banking, POS, telemóveis, entre outros. Temos capitais próprios de mais de 12 mil milhões de meticais, o que é importante.
O que estes resultados significam?
São dados significativos.
Nos últimos anos, tem-se assistido a uma maior concorrência no sector financeiro nacional. Como é que o Millennium bim se posiciona?
O Millennium bim tem-se posicionado estrategicamente como um banco universal, servindo a todo o tipo de clientes, particulares e empresas, independentemente do grau de sofisticação. Temos de ter em conta o seguinte: a economia cresce e nós temos de estar atentos ao mercado, para responder às necessidades. O desenvolvimento na área de recursos naturais implica que o banco tenha um posicionamento, uma visão do futuro, de modo a acompanhar esse crescimento. Isso significa levar os seus clientes a que se posicionem nesse mesmo crescimento. Devemos procurar produtos com antecipação, suficiente de modo a que os nossos clientes não sejam surpreendidos com as inovações e exigência do mercado.
O Millennium bim está a organizar uma palestra com foco na liderança. É nessa perspectiva que o banco está a acompanhar o desenvolvimento do país?
Sem liderança, não temos um conjunto empresarial que se posicione no mercado em condições de competitividade, capaz de encarar mercados internacionais. Este desenvolvimento que está a acontecer em Moçambique vai fazer com que o país tenha de participar em mercados cada vez mais globalizados, com intensidade e competitividade adequadas. Infelizmente, sabe que o grau de competitividade em Moçambique, segundo os dados divulgados por organizações internacionais, é muito baixo. A liderança nas empresas desempenha um papel muito importante. É a liderança que nos leva a estar prontos para fazer frente à procura destes mercados globalizados. Nós estamos no mercado, temos os nossos parceiros, temos que contribuir para que a actividade económica em Moçambique se desenvolva de uma forma agressiva e competitiva. Fomos buscar uma componente importante dessa evolução empresarial importante, que é a liderança.
As taxas de juro são elevadas em Moçambique. Porquê?
A procura do crédito em Moçambique está a aumentar, em consequência do crescimento da economia. As taxas de juro correspondem à política monetária e às condições de mercado. Não há nada a admirar nas taxas de juro. Há uma conjugação entre a política monetária, que tende a definir os níveis das taxas de juro que devem ser praticadas pelo sector financeiro.
Será que faz sentido ter taxas de juro a esse nível, tendo em conta a estabilidade da nossa economia?
As taxas directoras do Banco de Moçambique têm reduzido de uns tempos para cá. As declarações da autoridade monetária são de adequar as taxas directoras às verdadeiras necessidades de financiamento às Pequenas e Médias Empresas, que estão em crescimento. Isto está a acontecer. O bim tem estado a adequar os seus juros às taxas directoras. Há questões próprias de gestão de cada banco que, às vezes, não se ajustam aos níveis das taxas directoras, mas tem-se aproximado muito a isso. Há bancos que estão próximos das taxas impostas pelo Banco de Moçambique.
É o caso do Millennium bim?
É o caso do Millennium bim.
Com é que olha para o financiamento ao sector informal?
Nós tivemos a sensibilidade desta questão já há muitos anos, quando pensámos em abordar o sector informal de uma outra maneira. Fomos os primeiros na criação do microcrédito, associámo-nos a empresas de microcrédito para que o sector informal não se consolidasse como tal, mas que crescesse e se transformasse em formal. Fizemos com que se adequasse às necessidades da economia e se criasse uma classe média organizada.
Deu resultados?
Lançámos a primeira empresa de microcrédito. Depois disso, vieram muitas empresas de microcrédito. Essas empresas de microcrédito, se for a ver, fizeram com que pessoas que estavam no sector informal passassem para um sector mais desenvolvido e adequado ao ambiente de negócios.
Quando se fala da economia moçambicana, fala-se da diversificação. Qual é a estratégia do bim para financiar a agricultura, que é a base de desenvolvimento?
O Millennium bim tem, sempre, procurado apoiar as áreas de crescimento da economia. Como disse antes, o microcrédito visa responder a essa preocupação. Por outro lado, nós, na nossa actividade creditícia, encaramos a agricultura não propriamente como a produção agrícola, mas as empresas que suportam a agricultura à jusante e a montante. Pode perguntar-me por que não financiamos directamente a agricultura. É que apoiar a agricultura não é actividade da banca comercial. Tem de haver uma banca especializada em apoiar a agricultura. A agricultura, muitas vezes, obedece a ciclos económicos que levam três, cinco e seis meses, ou seja, semeou, fez a sacha, plantou, colheu. E há riscos, sobretudo calamidades. Para isso, é preciso instituições financeiras especializadas. Falta, também, no nosso país, o seguro de culturas, portanto, essas instituições precisam de ter uma abordagem específica para este crédito. Tem de possuir técnicos especializados, agrónomos e veterinários que calculem a viabilidade do negócio. O próprio sector tem de estar organizado, de modo a reduzir o risco.

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