quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A QUALIDADE DA GASOLINA QUE CONSUMIMOS: À QUEM EXIGIR RESPONSABILIDADES?

Por Ismael Mussa


Nas últimas semanas têm sido reportados vários casos relacionados com avarias de viaturas ligeiras alegadamente por causa de problemas derivados da qualidade da gasolina comercializada na nossa cidade capital e quiçá no resto do país e que tem como consequência a danificação das bombas de gasolina das viaturas e outros equipamentos da mesma. Estranhamente nenhuma autoridade governamental quer seja ao nível central quer ainda ao nível municipal se dignaram em prestar algum esclarecimento público sobre a matéria não obstante o caso ter já merecido um destaque noticioso e uma reportagem por parte de uma televisão e de um jornal privado reportando a gravidade e o número de casos até ao presente ocorridos.
 
O mais caricato é que o cidadão, não obstante pagar o imposto automóvel (IA), o imposto pessoal autárquico (IPA), o imposto sobre o rendimento da pessoa singular (IRPS), entre outros impostos, não tem uma estrada em condições de circular e por consequência tem de substituir regularmente os amortecedores e outras peças da sua viatura e agora, como se não bastasse, tem ainda de substituir as bombas de gasolina e deitar fora todo o combustível do depósito. Uma vez mais ninguém assume a responsabilidade por estes danos e não encontramos da parte do nosso Estado qualquer tipo de protecção à esta situação vivida pelos Moçambicanos. Ao Estado, na qualidade de representante dos cidadãos e na qualidade de agente regulador e fiscalizador da actividades das empresas privadas que se dedicam à importação e comercialização de combustível, cabe apurar responsabilidades e aplicar as devidas sanções pelos danos que estão a causar aos cidadãos, pois trata-se de uma situação pública e notória que deveria, de imediato, gerar, ao nível do Estado, uma acção na tentativa de se apurar os reais contornos do problema e quais as eventuais consequências que este combustível pode provocar nos automóveis e por consequência nos bolsos dos consumidores. É este o contrato social celebrado entre os cidadãos e o Estado. Como é que se pode elevar a auto-estima do cidadão se todos os dias surgem adversidades que inviabilizam e lesam a dignidade e os direitos fundamentais do cidadão e ninguém vem em seu socorro? Será possível que num estado de direito os cidadãos não tenham os seus direitos salvaguardados pelo Estado? A quem o cidadão deve dirigir-se pedindo responsabilidades se aqueles com quem celebrou um contrato social até ao momento continuam “mudos” diante da sua desgraça?

O mais grave pode estar ainda por vir caso as autoridades governamentais não se organizem para lidar de forma célere e eficaz com esta situação. Estou a imaginar as consequências caso está situação se mantenha e se alastre para outro tipo de combustível, por exemplo o combustível que abastece os nossos aviões. Espero que o diabo seja surdo e que esta calamidade acabe imediatamente e não afecte aos nossos aviões. Outro perigo também eminente é o caso desta calamidade vir também a afectar os “chapa cem” com todas as consequências sociais que conhecemos. Portanto, mais do que nunca deve-se exigir das autoridades governamentais um pronunciamento célere e convincente sobre o que está de facto a passar-se e a quem deve-se exigir responsabilidades na reparação dos danos sofridos. Recordo-me que o nosso Parlamento aprovou a Lei de defesa do consumidor e que na altura compareceram na sessão parlamentar as organizações de defesa dos direitos dos consumidores mas não se vê, até ao presente momento, nenhum pronunciamento destas mesmas organizações. Enquanto isso o pobre cidadão vai ter de fazer das tripas o coração e com o já magro rendimento ter ainda de suportar as despesas extras com a reparação das suas viaturas. Até quando o cidadão terá de suportar estas injustiças todas? Porquê que a entidade responsável pela importação, armazenamento e comercialização do combustível não presta um esclarecimento público sobre o que está de facto a acontecer, quais os cuidados que deve-se ter, em quais bombas pode-se com segurança abastecer as viaturas, a quem requerer a indemnização pelos danos sofridos até ao momento, quais os cuidados que estão a ser tomados para evitar que está situação atinja os aviões, quais as medidas adoptadas para corrigir definitivamente a situação, etc. Estas e outras questões deveriam ser devidamente esclarecidas o mais breve possível.

Defendo que o Conselho de Ministro deveria nomear uma comissão de inquérito multissectorial que inclua especialistas da área dos combustíveis, da polícia de investigação criminal (PIC) e do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SISE) para efectuar uma investigação mais aturada sobre este assunto de modo a tomar-se a decisão mais certa e duradoura sobre este tipo de ocorrência.

Hoje esta calamidade só está a atingir os carros movidos a gasolina mas ninguém garante-nos que as viaturas movidas a gasóleo não venham também a ser atingidas. Portanto, exige-se uma atitude célere e contundente das nossas autoridades governamentais e uma maior responsabilidade comercial da entidade responsável pelo processo de importação, armazenamento e comercialização destes preciosos líquidos que fazem mover ou paralisar a economia de um país.

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