segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A-propósito de Samora Machel

 

O DIA 19 de Outubro deste ano foi assinalado num momento de particular interesse, pelo elevado custo de vida e consequente debate para o estancar das diferenças abismais que existem entre os moçambicanos.
Isto sabido que Samora Machel era um ferrenho adepto da diminuição do fosso entre gente rica e gente pobre. Melhor, o malogrado era contra as desigualdades entre os moçambicanos com base em ser ou não ser rico; ser ou não ser pobre.
E calhou bem, por outro lado, uma vez que anteontem a Assembleia da República iniciou a II Sessão ordinária plenária prevista para este ano de 2010. Nessa data, os deputados, representados pelas suas chefias de bancada, incluindo a própria Presidente do Parlamento, dedicaram espaço nos seus discursos para falar do custo de vida. E todos assumiram que em Moçambique existem desigualdades.
Em momento de recordar Samora Machel, têm sido cada vez menores as iniciativas que se levam a cabo com o intuito de evocar o homem. Mais do que evocar aquele que foi o primeiro Presidente de Moçambique pós-Independente, urge reflectir, mais uma vez, para aquilo que se pretende do País e dos seus filhos.
Se na era Machel muitos dos males que hoje nos caracterizam eram quase inexistentes, talvez fosse óptimo seleccionar as melhores armas na época recorridas para se combater a criminalidade, a corrupção e a improdutividade. Mas aqui salta imediatamente à vista o facto de nem todos os métodos do passado serem aplicáveis nos nossos dias.
Desse modo, haveria necessidade de uma concertação, com base num diálogo franco e aberto, sobre como aplicar as medidas adequadas para cada fenómeno. Por exemplo, crê-se que não seria aplicável a ideia da guia-de-marcha para controlar os cidadãos, mas em sua substituição, se calhar, haja uma outra fórmula aplicável.
O mais caricato é que, no que respeita ao combate à corrupção, nenhum dos actuais dirigentes avança com a iniciativa de serem declarados os bens de quem está prestes a entrar no dirigismo político nacional, na senda do tal combate à corrupção.
Ora, cá fora, e talvez também no estrangeiro, se questiona como é que se pretende combater a corrupção e o enriquecimento ilícito se se está a afastar a ideia de os futuros dirigentes exibirem publicamente os seus bens?
Esta casa defende que existem alguns ensinamentos de Samora Machel que deveriam ser aplicados nos tempos que correm, sem se escangalhar o tecido social, que muito tem a ver com a economia de mercado que Moçambique passou a abraçar depois da morte de Samora Machel, em 86.
Samora Machel perdeu a vida após da aeronave em que viajava, ter caído em Mbuzine, ido da Zâmbia, onde havia estado horas antes, na companhia de outros tantos funcionários públicos e de elementos da tripulação, resultando na morte de um total de 35 pessoas.
Na altura, Moçambique era um País socialista. Haviam moçambicanos que não gostavam daquele modo de vida, e que em tertúlias defendiam a abertura do País à economia de mercado.
Para os mais novos. Naquela época, a selecção feminina de basquetebol estava proibida de calçar sapatilhas de marca norte-americana, defendendo, os dirigentes nacionais, as da UFA, reconhecidamente impróprias para uma alta competição do género de uma fase final da Copa Africana das Nações.
Foi preciso que as jogadoras experimentassem uma espécie de greve silenciosa, que acabaria por resultar numa ameaça de não entrada em campo para a disputa de uma importantíssima partida da modalidade. Aí sim, foi-se em busca das referidas marcas de sapatilhas. Moralizadas, as jogadoras moçambicanas até ganharam o jogo, numa excelente partida de basquetebol...
Mas nem tudo era igualdade entre os cidadãos na era Samora Machel. Haviam as tais lojas para o pessoal do corpo diplomático acreditado em Maputo, e as que só podiam ser frequentadas por membros da Numenktura. Era a outra face do socialismo defendida por Samora Machel.
Neste momento, há quem considere Samora Machel uma solução para os inúmeros problemas que apoquentam os moçambicanos. Mas há quem prefere colher alguns dos ensinamentos do malogrado, enquanto uma mão-cheia de outros são para deitar no caixote de lixo.
Um terceiro grupo, este constituído pelos mais velhos, aqueles que enfrentaram o dia-a-dia do regime, não tem dúvida.
Para disciplinar os moçambicanos, que se repesque todo o manancial de estratégias samorianas, pois de contrário, continuaremos a assistir às tais diferenças entre os ricos, os menos ricos e os pobres. São ideias. E Viva Samora Machel.
EXPRESSO – 20.10.2010

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