quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Geração Madjonidjoni

A Geração Madjonidjoni



Por
Júlio S. Mutisse
Julio.mutisse@gmail.com
Ideiassubversivas.blogspot.com

Esta é uma homenagem a milhões de moçambicanos que, no último século (sem exagero), se sucederam no trabalho nas minas na vizinha África do Sul. É uma homenagem não só ao que conseguiram durante o tempo em que lá trabalharam para si e suas famílias mas, acima de tudo, para o significado que esse trabalho significou para o nosso Estado.

Esta deve ser a única “geração” que apesar de, durante muito tempo, ter suportado grandemente o orçamento do Estado, não é justamente referida/evidenciada. É uma “geração” com feitos, e provavelmente com direitos a reclamar mas que não marcha, não reclama, não levanta a voz e não reivendica protagonismo pelo valor acrescentado que é(ra) trabalhar na RSA beneficiando igualmente ao Estado fruto dos acordos existentes.

Estes homens merecem a minha homenagem. Ou não fosse eu filho de um deles. Ao permitir que se publique este texto, o director deste Jornal estará a homenagear o velho Langa a curtir uma reforma, se calhar, com contas a ajustar com as muitas décadas de trabalho braçal vendido naquelas minas tentando fazer o match entre o descontado lá e o recebido aqui.

É sabido da nossa história que o trabalho migratório para as minas sul-africanas e o trabalho (coercivo) na agricultura sustentou, por muito tempo, a economia colonial. É igualmente conhecido o efeito do repatriamento de trabalhadores moçambicanos com contratos nas minas para as contas do Estado moçambicano nos primeiros anos da independência.

Historicamente sabemos que o Estado Colonial Português autorizava o recrutamento de moçambicanos em troca do uso do Porto de Maputo e infra-estruturas complementares, para além do envio de parte do salário dos mineiros para Moçambique em forma de ouro sendo depois pago aos trabalhadores no seu regresso a Moçambique em moeda local.

Mesmo com a redução do recrutamento de 100 000 mineiros para 30 000 nos primeiros anos da independência nacional, os mineiros continuaram sendo uma boa fonte de divisas de que o país precisava para se manter.

É por esta razão que homenageio gerações e gerações de Madjonidjonis pelo seu contributo directo e até indirecto para o desenvolvimento do país. Se não fossem homens sensatos e humildes que honraram o seu sacrifício a favor de suas famílias, provavelmente teríamos outra coluna a desfilar pelas cidades (principalmente do sul de Moçambique) exigindo algo a que devam ter direito mesmo que esse algo seja o reconhecimento do seu esforço e a inclusão da sua contribuição no desenvolvimento do país nas páginas da história desta nação.

Se calhar seja altura de, como outros, criar a “Associação dos Filhos dos Antigos Madjonidjonis” e, pelo menos, reclamarmos o protagonismo dos nossos país na consolidação das conquistas da gesta libertadora.

Mais importante ainda é que o trabalho feito de estudar o “Mineiro Moçambicano” seja continuado para que na memória colectiva dos moçambicanos a geração Madjonidjoni seja conhecida e reconhecida.

Seja como for, se ao longo de séculos as minas sul-africanas foram sendo o ponto de convergência para a solução dos problemas e realização do sonho da prosperidade de milhares de moçambicanos, podemos começar a sonhar Tete e Moçambique no geral como o novo Johny, o novo local de convergência dos moçambicanos ávidos de realizar o sonho de prosperidade, construir casa, casar e ter muitos filhos que orientou a debandada para a África do Sul de muitas gerações de moçambicanos.

Adicionado aos avultados investimentos que as mineradoras anunciam, há uma necessidade premente de erguer as infra-estruturas viárias, férreas, eléctricas e outras que potenciem Moçambique como o novo Johny. Afinal, se ontem sonhávamos com a realização nas minas da África do Sul, temos potencialidade para começarmos a pensar na realização na nossa casa. Com o carvão de Tete, ouro de Manica e Niassa, as areias de Chibuto e Moma, gás em descoberta por esta nação fora podemos, a breve trecho, nos transformar no novo Johny onde convergirão não só moçambicanos, como, igualmente, nacionais dos países da região e do resto do mundo havidos de emprego, como de oportunidades de negócios que se abrem em torno desses enormíssimos empreendimentos.

Quando assim fizermos, nos potenciaremos com trabalho/obra como produtores de viragem e, da mesma forma que homenageio a Geração Madjonidjoni aqui, poderemos ser homenageados como a geração da viragem pelos nossos filhos, netos e bisnetos.

É claro que estarei lá para ver. Bayete Madjonidjonis.

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