quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Cauda do Escorpião - O Adeus a Moçambique", de Giancarlo Coccia*


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Caudaescorpiao_capa SOBRE O AUTOR
Depois de se licenciar em Ciência Política, Giancarlo Coccia trabalhou como jornalista em Milão e Bona. Em 1968, cobriu a guerra do Vietname ao lado das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos. Após uma estada em Londres, foi transferido para Bruxelas e incumbido de seguir as actividades da NATO e da antiga Comunidade Económica Europeia. O seu primeiro contacto com a Guerra Colonial ocorreu em 1970, quando testemunhou os confrontos militares em Angola. Desde então, o embate das ideologias em África monopolizou a sua atenção, levando-o a Moçambique em 1973.
Durante quase todo o período que mediou entre o 25 de Abril e a transferência de soberania para a FRELIMO, Giancarlo Coccia conseguiu permanecer em território moçambicano. Enquanto os restantes jornalistas ocidentais viam os seus movimentos ser limitados a Lourenço Marques e à área circundante, Coccia viajou extensivamente e, várias vezes, na companhia de oficiais de alta patente dos Comandos. O MFA, porém, receoso da presença e das peças jornalísticas do autor, afastou-o por duas vezes do país e mandou-o prender durante três semanas. Não obstante esta detenção, Coccia foi capaz de acompanhar os seis meses caóticos que transformaram Moçambique num estado comunista, meses cujos bastidores agora descreve com uma nitidez e acuidade notáveis.
SINOPSE
Moçambique, de Abril a Setembro de 1974. Neste espaço de tempo tão diminuto, o domínio português estilhaçou-se completamente e a FRELIMO pôde subir ao poder, decidida a estabelecer um regime comunista de inspiração maoista. Como e porque é que tudo isto aconteceu? Tendo conseguido percorrer todo o território moçambicano durante este período de transição, Giancarlo Coccia testemunhou, acima de tudo nas províncias do Norte, não só os acontecimentos que corroeram a administração e os esforços de guerra portugueses, mas também as razões políticas e económicas que presidiram a todo o processo. Fruto deste conjunto de experiências e de meses de posterior pesquisa, A Cauda do Escorpião sabe iluminar momentos-chave até hoje pouco compreendidos, caso do massacre de Wiriamu, da reunião secreta do MFA com a FRELIMO, das diligências de Jorge Jardim para lidar com o movimento independentista moçambicano, das tentativas da elite financeira para criar um governo negro não comunista ou das ordens bizarras que, vindas de Lisboa, agrilhoavam a estratégia militar portuguesa. Contributo imprescindível para o estudo da Guerra Colonial e da descolonização, este livro retrata, de forma vívida, os últimos dias do império português.
· A presente edição revela inúmeros factos inéditos, referentes aos bastidores político-militares da Guerra Colonial e da descolonização, podendo, por isso mesmo, funcionar como uma fonte privilegiada de informações não só para professores e estudantes de História Contemporânea, mas também para todos os leitores interessados nos últimos anos do império ultramarino português.
· Dado que aborda um período particularmente sensível e traumático do nosso passado recente, período que marcou a vida de grande parte da população nacional, A Cauda do Escorpião tem, à partida, um universo muito amplo de leitores potenciais.
· Este livro permite aos ex-combatentes da Guerra Colonial e aos ex-residentes das antigas colónias portuguesas revisitar algumas das imagens e dos momentos mais marcantes da sua história pessoal.
· Ao assumir sem rodeios uma determinada perspectiva dos acontecimentos, a presente obra não esconde a sua natureza polémica e não teme, assim, criar paixões de diferentes polaridades, desde a adesão entusiástica à reprovação inflamada.
Edição Vertente, 375 pág. 2011
*Uma edição revista e ampliada de The Scorpion Sting-Moçambique publicada originalmente pela Livraria Moderna, Johanesburgo, 1976
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Comments

1
João P. Amorim said...
Ainda bem que os testemunhos do Fim do Império Português vão aparecendo. À semelhança do que actualmente acontece com a reedição, mais perto da verdade, da História da IGG (1914-18), por actuais investigadores e historiadores, será, daqui a 100 anos que se reescreverá a do referido "Fim".
Tanto nas Famílias como nas Instituições, "o incómodo é parte da verdade".
Ao ler o livro "Mazagão" do Prof. Hist. Dr. Ferreira do Amaral, localidade abandonada em 1769 por ordem do Marquês de Pombal e com muitas "curiosidades", constatei que o início da Colonização e Descolonização Portuguesas tiveram lugar no Norte de África, com as mais variados tipos de entradas e de saídas do território, desde 1415 com a conquista de Ceuta.
2
maria sá said...
um livro bem interessante pelo que acabo de ler.
Actualmente servirá de documento histórico ,mas os tempos são já
outros -os que viveram este momento histórico já partiram para o outro Universo .
Agora ,vem funcionar como mais um testemunho da fraude politica de que foram vitimas em nome dos Direitos Humanos só pq se impôs como
lema "orgulhosamente sós"
Portugal furtou-se ao diálogo com os chefes dos movimentos independentistas e quem semeia ,colhe e foi-se para uma guerra que mutilou tantas almas e corpos.
3
Francisco Moises said...
Jose Matos leu e concorda comigo que este livro retrata vividamente os dias finais do regime colonial portugues em Mocambique. Li sobre o caso de Omar no livro e o ataque com bombas explosivas pela aviacao portuguesa alguns dias mais tarde -- factos estes que os jornais quenianos de Nairobi ja tinham reportado aquando do evento.
Giancarlo Coccia foi um jornalista activo que observeu o ataque da tropa portuguesa contra a Base Beira da Frelimo em Cabo Delgado -- isto e antes do golpe do estado em Portugal. Ele esteve quase por todas as partes em Mocambique assistindo um regime colonial que contribuia para se matar a si proprio e dar a Frelimo a forca que esta nao tinha.
Dai uma versao diferente do reportado massacre de Wiriamu em Tete e admite que houve bombardeamentos por avioes Fiat G-91 em Sussundenga onde civis foram atingidos.
Embora a minha memoria sobre este livro envelheceu, alguns factos de que retrata ainda flutuam muito salientemente... aqui e acola. Leria o de bom grado mais uma vez quando este livro tiver a ma sorte de cair nas minhas maos mais uma vez.

4
Jose Matos said...
O livro de facto é muito interessante e um bom relato de quem viveu a transição em Moçambique, o caso de Omar está bem abordado no livro...e foi uma vergonha para as nossas tropas...o comando em Moçambique ainda tentou fazer uma operação de resgata no dia seguinte..mas Lisboa demorou a dar autorização e quando respondeu já a Frelimo tinha atravessado a fronteira...
5
Francisco Moises said...
Giancarlo Coccia entre a morte e a captura pela Frelimo -- a reacçao rapida dum comando mudou a equaçao. Giancarlo Coccia, o autor da obra de que se fala neste artigo, teve a sorte de nao ser abatido pela Frelimo ou de ser capturado e depois ser exibido como foram os soldados portugueses da base de Omar que cairam vitima duma cilada da Frelimo.
Volvidos quase 40 anos depois de ter lido o livro de Giancarlo Coccia em Nairobi, Kenya, nao é mais possivel me lembrar de todos os detalhes deste incidente relatado no livro, mais os pontos salientes ainda permanecem na minha memoria. Foi na Zambézia que isto aconteceu como reporta Coccia no seu livro.
Os militares portugueses tinham cessado a guerra enquanto Samora Machel falava de intensificar a guerra se Portugal nao transferisse os poders politicos para Frelimo. Coccia deu boleia a dois comandos africanos do Exercito português que sao identificados por um so nome cada: Joao e Fernando. Os dois regressavam as suas casas seja de folga ou de vez. Estavm fardados e nao armados tanto quanto Coccia sabia. Como os militares portugueses tivessem cessado as operacoes contra a Frelimo, os homens armados da Frelimo apareciam em zonas onde nao ooperavam como na provincia da Zambezia.
Coccia conduzia quando três a cinco homens da Frelimo, ja nao me lembro bem do numero exacto, entraram na estrada em frente deles com armas apontadas a Coccia e aos comandos, ordenando-os que saissem do carro.
Num abrir e fechar de olhos houve uma grande explosao. Um dos comandos tinha lançado uma granada contra os guerrilheiros da Frelimo, matando-os todos.
Coccia estava espantado visto que nao sabia que os comandos tinham granadas ou uma granada. Nao me lembro o que fizeram com os corpos os guerrilheiros. Obviamente nao os enterraram visto que nao havia tempo para isto. Estou mais do que certo que arrastaram-nos para o mato.
E depois a viagem continuou com os dois comandos calmos a conversar com Coccia como se nada tivesse acontecido.
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Francisco Moises said...
A fome na verdade era um dos maiores problemas dos guerilheiros da Frelimo visto nao tinham zonas libertadas onde se pudesse cultivar comida como acontecia no Moçambique libertado pela Renamo onde vi populaçoes a produzirem muita comida, o que lhes permitiam apoiar a guerrilha da Renamo e a se alimentarem. E isto enquanto a imprensa mundial falava da fome em Moçambique e os capitalistas-imperialistas despachavam comida para manter o regime da Frelimo.
Nas zonas fronteiriças, as populaçoes iam quase diariamente depois da colhetas vender os seus produtos agricolas em paises vizinhos. E isto sem nenhuma interferência e proibiçao da Renamo. Vi isto com os meus proprios olhos nas zonas entre Moçambique e o Malawi, entre Tete e o Malawi e entre a Zambezia e o Malawi.
Na verdade, o que se pode esperar duma governaçao da Frelimo, se nao podiam manter os seus proprios guerrilheiros fornecidos, para alem de lhes fornecer as ak-47 para enfrentarem o poderio militar português.
Espero que alguem nao dira que estou desconcertado e desnorteado. Conheci a Frelimo de perto e a Renamo tambem de perto, embora esteja hoje muito longe das duas organisaçoes.
7
O Dr Moisés retrata e bem o "guerrilheiro" da Frelimo - maltrapilho.
Alguns eram apanhados à mão, devido a fome.
Que é que se esperava com a governança deles?
Verdade seja dita, se os militares "metropolitanos" não tivessem dado auxílio a Frelimo, de certeza não sairiam das matas.
Foram esses militares que entregaram de mão beijada, não defendendo interesses que não lhes pertenciam, ocasionanado nova guerra passados 3 anos, e que todos agora culpam o Smith/Vorster.
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Francisco Moises said...
Talvez um dos melhores livros que tenha lido em traduçao inglesa como "The Scorpion Sting - Moçambique" em Nairobi, Quenia, nos finas da década de 1970 sobre os dias finais do regime colonial portugues relatado por este jornalista italiano a partir do lado português. Embora sub-entendidamente simpatisante do lado português, esta obra demonstra quais foram as fraquezas do regime colonial português no campo militar depois da queda do regime salazar-caetano em Portugal em 1974.
Faltou muito a liderança militar depois do golpe, enquanto que os comandos queriam continuar a confrontar a Frelimo. O exercito da Frelimo eram mesmo maltrapilhos, sujos e cheios de piolhos. Em certos casos quando saiam das matas eram fornecidos roupa pelo proprio exercito português.
Perguntemo-nos: o que é que os lideres da Frelimo faziam com todo o dinheiro que recebiam da entao Organisaçao da Unidade africana, dos paises africanos, dos simpatisantes esquerdiatas ocidentais para os seus militares viverem nas matas como maltrapilhos? Usava o dinheiro para gozarem as boas vidas em Dar Es Salaam e para viajarem para muitos paises.
Este jornalista nao se riu do facto que na zona de Inhaminga, uma força militar portuguesa se fazia acompanhar por um curandeiro que dizia aos soldados para pararem quando havia emboscadas ou minas em frente. Os poderes psiquicos deste curandeiro eram respeitados pelos soldados portugueses -- brancos e pretos.
Este livro indica como Portugal entregou Moçambique numa bandeja de prata enquanto as forças portugesas estavam muito longe da derrota num tempo em que a Frelimo, mal comandada e descordenada, nao tinha a esperança duma vitoria militar em vista, embora causassem encomod nas zonas florestais.
Boa leitura para quem possa obter este livro. Escrito em italiano, gostaria de ler esta obra mais uma vez em inglês ou em português para refrescar a memoria. O meu italiano nao é bom, mas é melhor do que o português de Samora Machel era. Tentarei verificar se a biblioteca universitaria ou urbana tem esta obra.

1 comentário:

Anónimo disse...

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