sábado, 27 de outubro de 2012

“A aceitação da Stv tem muito que ver com o tipo de jornalismo que introduzimos”

“A aceitação da Stv tem muito que ver com o tipo de jornalismo que introduzimos”
Daniel David, em Grande Entrevista, a propósito dos 10 anos da sua tv.
Daniel David revela os segredos do sucesso da Stv nos 10 anos, destacando que “o jornalismo de objectividade, trazendo os programas das populações para a televisão, principalmente os problemas candentes no dia-a-dia da vida de qualquer cidadão, deu-nos uma posição diferenciadora e de liderança” .
O fundador do grupo Soico nasceu a 15 de Fevereiro de 1966, no distrito da Moamba, província de Maputo (...). Preside a um dos mais poderosos grupos mediáticos de media. O que levou o grupo Soico a candidatar-se, em 2002, a uma licença para a concessão de um canal privado?
O grupo Soico foi constituído a 28 de Setembro de 2000 com um objectivo que era organizar eventos empresariais. Foi a partir daí que nasceu a ideia de criarmos um jornal económico, um jornal de negócios e desenvolvemos todos os esforços a nível legal e seguimos os trâmites estabelecidos na lei, solicitando uma licença para a produção de um jornal semanal. A ideia era lançarmos um diário económico. Só que, pelas vicissitudes da vida, apareceu a ideia de lançarmos uma televisão e assim, em 2002, submetemos uma licença ao governo para abertura de uma televisão e fomos autorizados.
Que expectativas tinha para o novo canal?
A expectativa era trazer um diferencial no mercado audio-visual em Moçambique, um produto inovador para os nossos telespectadores, nossos compatriotas. Uma plataforma em que todos os moçambicanos pudessem retratar-se, pudessem estar e sentir-se parte dela. Nós sabíamos que havia uma televisão pública e, nessa ordem de ideias, achámos que havia um espaço diferenciador que podia alimentar um pouco aquilo que se precisava, em termos de comunicação social, e aí lançámos a Stv.
Sente que hoje, volvidos 10 anos, as suas expectativas estão satisfeitas? Era esta a televisão que idealizou em 2002?
A televisão é um processo. O que era televisão na altura é diferente de agora. Há evolução das pessoas, há evolução de ideologias, há evolução da economia, e nós temos que nos adaptar a cada ano que passa. Por isso, posso dizer-lhe que as expectativas vão sendo satisfeitas, gradualmente, enquanto aparecem sempre os novos desafios.
Mas era esta a televisão que sonhou?
Uma parte era. Obviamente que há desafios que temos que enfrentar e continuaremos a enfrentar.
Olhando para trás, que leitura faz da rápida conquista das audiências por parte da Stv? O que foi determinante para esta rápida aceitação da Stv pelo público?
Eu acho que a aceitação da Stv tem muito que ver com o tipo de jornalismo que nós introduzimos, um jornalismo de juventude, juventude irreverente, um jornalismo de objectividade, trazendo os programas das populações para a televisão, principalmente os problemas candentes no dia-a-dia da vida de qualquer cidadão e isto criou uma vantagem competitiva. Deu-nos uma posição diferenciadora e de liderança.
Uma das marcas da Stv é a informação, promotora de um jornalismo pró-activo em relação aos vários campos sociais. Que jornalismo foi esse que desenvolveram? O que determinou a opção editorial?
É um jornalismo de objectividade, um jornalismo de equidade, um jornalismo de verdade, relatando factos e, conjugando isso com a juventude dos nossos jornalistas e com a irreverência deles, todos trouxemos uma dinâmica nova naquilo que é o jornalismo em Moçambique. Isso foi bastante elogiado, foi recebido com bastante agrado pelos nossos telespectadores e foi muito bom. E a outra coisa que se coloca é que as tecnologias e as capacidades de mobilidade que nós introduzimos no Mercado audio-visual garantiram que nós fôssemos diferentes dos nossos concorrentes.
O negócio da TV dá dinheiro?
Acho que dá dinheiro, senão não estaríamos 10 aqui na Stv. Nós vivemos à custa da publicidade. Para a sua informação, a televisão é um projecto que tem uma dinâmica constante. Nós estamos a consolidar as nossas contas, obviamente a tv exige investimentos contínuos. Como sabe, tivemos reuniões de planificação ainda este ano, onde avaliámos o desempenho da nossa empresa nos últimos 10 anos e verificámos que estamos a crescer, estamos a consolidar as contas, estamos a reestruturar a nossa televisão, mas também estamos a desafiar os novos investimentos. Terminámos o ano passado com um resultado operacional de cerca de 17 milhões de meticais, e estamos agora, já em Setembro, com um resultado aproximado de oito milhões de meticais. isto mostra, claramente, que estamos a equilibrar as nossas contas. Obviamente, os custos do dinheiro são muito altos, nós temos um custo médio de dinheiro de 20% e essa percentagem é muito alta para nós. Mas nós continuamos a lutar, indo buscar a publicidade, também trabalhando com a banca para alavancar os nossos negócios.
Se dá dinheiro, o senhor sente-se um homem rico?
O conceito de riqueza é relativo(...). Essa perspectiva de riqueza não pode ser vista de uma forma tão generalista como está a colocar. A riqueza é relativa, obviamente nós trabalhamos e criamos condições para vivermos razoavelmente bem. O que temos feito é luta, nós como accionistas, mas também lutamos nós como colaboradores.
A Stv é sustentável ou não?
Eu acho que é sustentável. O grupo Soico tem uma plataforma multimedia. Como sabe, temos a rádio, o jornal e temos a televisão. A televisão representa 75% da nossa facturação e os outros cerca de 13 a 14% vem do jornal e 2% vem dos eventos que nós organizamos. A televisão tem sido rentável e, obviamente, o grande constrangimento que nós temos é usar os nossos recursos da tesouraria para os investimentos, de modo a minimizar o impacto financeiro derivado do custo do dinheiro. Isso obriga-nos a ter dificuldades de “cash flour”, mas é sustentável, acho que temos lutado e temos conseguido sobreviver disso.
O que terá ganho ao longo destes 10 anos da existência da Stv?
Ganhar em termos de quê?
Em termos pessoais...
Eu acho que é a realização de um sonho. Estar aqui com um projecto de moçambicanos, um projecto de mostrar que fazer televisão por privados era possível em Moçambique. Eu tenho esta sociedade no grupo Soico com uma sócia moçambicana, Graciete Carrilho. Somos os únicos sócios desta empresa e que desenvolvemos algo que nos toca profundamente. eu vivo televisão, eu vivo o grupo Soico 24 horas por dia. Estou sempre a pensar em novos projectos, em novas aventuras, a dinamizar tudo aquilo que pode criar valor ao grupo Soico e trazer também o valor percebido aos nossos telespectadores. Acho que ganho aqui uma realização pessoal e ganha também o país por demonstrar que é possível criar uma plataforma de media, ganhadora, inovadora e diferenciadora no mercado moçambicano.
Circularam rumores de que teria vendido parte das acções à família Guebuza, em particular, a Valentina Guebuza. Isso é verdade?
Já respondi à pergunta. Acho que os jornalistas gostam sempre de criar factos de notícia, talvez seja para vender ou para fazer qualquer coisa. mas eu acho que um jornalismo sério não pode estar nas especulações, só tem que entrar nos factos. Factos estão aqui. Vai ao Boletim da República, vai ver quem são os accionistas do grupo Soico. Está lá a DHD, que é um grupo meu e da minha família, e a Graciete Carrilho, que é a minha sócia. Se a Valentina Guebuza quer ou não comprar a televisão, eu não sei, nunca ouvi, estou a ouvir agora e vi também num jornal semanal que escreveu, não tenho conhecimento. Mas se ela quiser comprar e der um bom cheque, eu sou empresário, vendo. Se for um bom cheque e que garanta o retorno do investimento feito, eu vendo, os empresários estão para ganhar dinheiro.
Até que ponto vem sendo tentado a abrir a Stv a outros accionistas?
Nós já estamos a trabalhar nisso. A nossa ideia é reestruturar a empresa, transformá-la numa sociedade anónima de modo a colocá-la ou na Bolsa de Valores ou à procura de sócios estratégicos, que possam agregar valor e possam também criar aquilo que chamamos pilares basilares para que a televisão dê o salto de que precisa. E esse trabalho está sendo feito e, gradualmente, vai-se consolidando. Nós esperamos que, gradualmente, possamos ter as condições criadas para que qualquer pessoa que queira investir no grupo Soico possa fazê-lo.
Nas manifestações de 5 de Fevereiro de 2008 e 1 e 2 de Setembro de 2010, a A Stv foi pressionada ou não? E como é que reagiu a isso?
É preciso perceber uma coisa. O factor pressão quer empresarial quer político, quer da sociedade é algo normal para quem gere um media. Não pode ser visto como uma coisa anormal. Eu acho que é algo normal, a sociedade pressiona, os empresários pressionam, os políticos pressionam. Acho que é normal que isso aconteça. Agora, a grande diferença é nós sabermos como reagir a essa pressão. É uma pressão legítima de quem quer que seja, mas também tem que ser legítima e correcta a nossa actuação perante essa pressão. Nós continuamos a agir com transparência, com integridade com ética e com valores que consubstanciam aquilo que é de bom que queremos para nós e para o nosso país. A Stv não existe contra os moçambicanos, existe pró-moçambicanos e para moçambicanos.
Até que ponto a crise financeira internacional afectou a Stv?
Mencionou um exemplo concreto, o tempo das manifestações em que se criou aqui um ambiente nebuloso, que afectou as nossas receitas, pois alguns parceiros nossos cortaram a publicidade que nós esperávamos que poderiam manter e isso afectou a nossa receita. Tivemos uma queda da nossa receita em 30% e, também conjugado com a crise internacional, as nossas receitas baixaram significativamente. A partir daí, Encetámos uma estratégia de reestruturação interna. Nós tínhamos cerca de 290 colaboradores, reestruturámos a mão-de-obra e, neste momento, estamos com cerca de 200 trabalhadores. Foi um processo de indemnização e de reestruturação interna que pesou bastante nas contas da Stv. Iniciámos também um processo de reestruturação tecnológica, que trouxe um impacto muito grande nos investimentos que nós fizemos para aquisição de novos equipamentos.
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