quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Subsídios para a História moçambicana - II


No momento em que decorrem eleições em Moçambique, às quais concorre, corajosamente, um filho do Reverendo Urias Simango, assassinado pela FRELIMO no dia 25 de Junho de 1977, gostaria de recordar aqui a forma cobarde como aconteceu mais este atentado à democracia que havia sido "prometida" a um Povo mártir, que apenas anseia por viver a sua liberdade em paz.
Depois dos "julgamentos" acontecidos em Nachingweia no mês de Março de 1975, em que os réus foram condenados a uma pena que nem sequer constava dos Códigos Penais em uso no País, como é o caso da pena de REEDUCAÇÃO, os condenados foram sendo "transferidos" para Moçambique, para o Centro de "Reeducação" de M'teleia, no distrito de Majune.
Foram mais de 200 prisioneiros, apelidados pela FRELIMO como "GRUPO dos REACCIONÁRIOS", entre os quais se contava o Reverendo Urias Simango, Paulo Gumane, Lázaro Kavandane, a Drª. Joana Simeão, o Dr. Arcanjo Faustino Kambeu, Júlio Razão Nihia e Adelino Guambe, entre tantos outros, que para ali foram em Novembro de 1975.
Para o mesmo Centro de "Reeducação" de M'teleia, instalado no antigo quartel do Exército Português de Nova Viseu, cujo director era um veterano guerrilheiro da Luta Armada de Libertação Nacional, que havia sido "recrutado" na Zâmbia, foram igualmente enviados o Padre Mateus Pinho Gwenjere e Raúl Casal Ribeiro, que havia sido adjunto do Comandante Filipe Magaia, até ao momento em que, por causa do assassinato deste, resolveu abandonar a FRELIMO e radicar-se no Norte da Tanzânia, juntamente com a família.
Sabe-se que o governo da Tanzânia, acedendo a um pedido de Samora Machel, prendeu Casal Ribeiro e entregou-o à FRELIMO.
O comandante do campo tinha fama - e o proveito, acrescente-se - de ser um homem cruel, sendo o homem certo, na convicção dos dirigentes da FRELIMO, para tomar conta de pessoas de antemão destinadas a morrer extrajudicialmente, porque estes como muitas dezenas de outros cidadãos moçambicanos eram "perniciosos" para as ambições dos novos senhores do País.
Dos cerca de 1.800 prisioneiros que passaram pelo famigerado Centro de Reeducação, não chegaram a uma centena aqueles que escaparam com vida.
Os chamados "reaccionários" foram colocados em celas individuais, onde apenas duas vezes por semana lhes era permitido vêr a luz do dia, o que acontecia entre as 8 e as 11 horas, devidamente acompanhados por sentinelas fortemente armadas. Comiam, dormiam, faziam as necessidades dentro da cela. Aos Domingos, apenas dois prisioneiros eram autorizados a receber a visita das esposas. Eram estes o Revº. Urias Timóteo Simango, que recebia a esposa Celina durante 15 minutos, e Raúl Casal Ribeiro, que podia estar o mesmo tempo com a esposa Lúcia Tangane. Os outros prisioneiros apenas podiam contactar a família através de carta... que era devidamente censurada antes de seguir o destino, pois não podiam sequer mencionar o local onde se encontravam. Podiam dizer apenas que estavam num Centro de Reeducação, sendo tolerado, tempos depois, que nomeassem a Província do Niassa.
Os homens da SNASP, afectos ao governo provincial do Niassa, tratavam de abrir toda a correspondência que entrasse ou saísse do Centro. Por vezes, certamente por descuido, lá ia uma carimbadela a denunciar o governo da Província do Niassa. Era como se fosse uma franquia aposta no correio.
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