domingo, 16 de setembro de 2012

Marcelo Rebelo de Sousa: "Quem entalou o PSD e o primeiro-ministro foi Paulo Portas"

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Professor diz que Passos Coelho sai enfraquecido com as divergências na coligação mas que está obrigado a ficar amarrado a Portas até ao verão de 2014. Quanto à TSU, acredita que as dúvidas sobre a sua constitucionalidade serão uma desculpa para recuar na medida.
O ex-líder do PSD critica o comportamento de Paulo Portas mas também não poupa críticas a Passos Coelho.

No seu habitual comentário na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o primeiro-ministro “esteve razoavelmente preparado” na entrevista à RTP, mas destacou o insólito de assistir a um primeiro-ministro “a pedir batatinhas ao PP”.

Contrariando o que muitos defenderam, que Passos “entalou” Portas na referida entrevista, Marcelo considera que o primeiro-ministro “sai muito enfraquecido, sobretudo nas relações com o PP”, pois “quem entalou o PSD e o primeiro-ministro foi Paulo Portas”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa o comportamento de Paulo Portas, que demorou uma semana a reagir às medidas de austeridade e só depois da entrevista de Passos à RTP, “foi um taque à coligação e ao primeiro-ministro”, pois trouxe a público “as divergências na coligação”.

“Se o primeiro-ministro pensava que ia entalar Portas saiu entalado”, afirmou o professor, acusando Portas de não ter resolvido em privado a divergência com as alterações na TSU. “E se o queria fazer em público demorava um dia e não seis”, acrescentou.

Apesar de acreditar que “não haverá ruptura na coligação, nem chumbo no orçamento”, pois não “há espaço para veleidades” nesta crise, Marcelo teme que as pessoas não entendam esta divergência na coligação.

Quanto à resposta que o PSD vai dar à declaração de Portas, Marcelo diz que o “PSD tem que ter juízo agora”, pois “não vai fazer a mesma coisa que fez Portas. Espero que o PSD tenha categoria para dizer que não responde a Portas”.

Questionado sobre se a coligação está “ligada à máquina”, Marcelo responde que Passos e Portas “têm de olhar para o interesse do País, pelo menos até ao Verão de 2014. Mas Passos Coelho não pense que consegue entalar Portas. Estão obrigados a estar amarrados um ao outro”.

Criticou Passos Coelho por não respeitar Seguro, salientando que no anúncio das medidas de austeridade “não se liga ao líder da oposição uma hora antes de anunciar ao País”.

Mas também não poupa críticas ao líder da oposição, classificando de precipitação a ameaça com a moção de censura. “Não queremos provocar uma crise e então a moção de censura é para quê? É para brincar?”, questionou. Seguro “passou do silêncio ensurdecedor para um excesso que foi a moção de censura”, considerou.

Quanto ao papel de Cavaco, Marcelo discordou de Manuela Ferreira Leite e considerou que o Presidente da República tem de intervir, ainda que “forma discreta”.

Em relação à manifestação de Sábado, concluiu que “foi além daquilo que pensava” e que “a maioria silenciosa manifestou-se. O povo disse: não compreendemos isto e não nos identificamos com isto”.

Dúvidas sobre constitucionalidade pode servir de desculpa para recuar na TSU

Não poupando nas críticas ao primeiro-ministro, Marcelo afirmou que havia espaço para tributar de forma mais acentuada o capital, bem como os rendimentos mais elevados.

Mas para Marcelo Rebelo de Sousa o ponto polémico é a TSU, pois “não há nenhum País no mundo com esta medida”.

O professor acredita que esta medida pode levantar dúvidas ao Tribunal Constitucional, já que não é uma medida de excepção e não dá nada ao Orçamento. “Pode dar que falar em termos de constitucionalidade”, diz Marcelo que por outro lado adianta já que pode também ser uma “desculpa para o Governo recuar no todo ou em parte” com as alterações na TSU.

Mudar de discurso

Nas críticas que fez a Passos, Marcelo salientou uma das frases ditas pelo primeiro-ministro na entrevista à RTP, quando este culpou os portugueses por terem consumido menos em 2012. Para Marcelo, a mensagem que passou foi: “Eu sou perfeito. Vocês [portugueses], suas bestas, é que estragaram tudo”.

“Há que acertar o discurso. Ele quer que poupemos ou que consumamos”, questionou.

Além de mudar o discurso, Marcelo voltou a apelar a uma remodelação. Será um “sinal de que se pode mexer em termos orgânicos” e uma “oportunidade de alargar [o Executivo] a novas pessoas, que tenham capacidade de discurso”.

Relvas também não foi poupado, com Marcelo a recordar que foi ele o primeiro-ministro a reagir às medidas anunciadas na sexta-feira anterior por Passos Coelho. “No Brasil, de camisa aberta, queimadinho, disse que não percebe porque os portugueses estavam indignados”, afirmou Marcelo, concluindo que “há qui problemas de equipa que o primeiro-ministro tem que enfrentar”.