quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Façamos dos 50 anos da Frelimo um momento de reconciliação (1)

SR. DIRECTOR!
Para quem for: homem, mulher, organização, movimento, associação, grupo, etc., ao contemplar uma fase etária dos 50 anos, isto se lhe confere uma certa autoridade; pujança, credibilidade, estabilidade psicológica, alta capacidade de discernimento, maturidade, ponderação, acautelamento, idoneidade, postura e, o que constitui problema para os outros este cinquentenário se apresenta como solução em pessoa. Embora nem todos exibem correspondência entre idade e maturidade, e outros atributos não verbais. Fim do intróito.
Maputo, Quinta-Feira, 13 de Setembro de 2012:: Notícias
Cinquenta anos é sinónimo de vida; de experiência; de alguém qualificado para formar opinião válida, portador dum cérebro autorizado e qualificado para aprovar ou rejeitar algo; para formular sistemas de soluções, etc. Na minha análise, a FRELIMO está qualificada para exibir pomposamente estes dotes, que o conferem esta maturidade. Certamente, foram anos de avanços e recuos caracterizados ora por longas subidas e deslizes; de “gafes” conscientes, estratégicos e inconscientes; duma espiritualidade e agressividades pontuais e aplicadas directamente; de tombos e glórias, mas tudo à busca de uma razão de ser dum povo. Dizia o saudoso Marechal Samora Machel: “Aprendemos a governar governando”. A FRELIMO foi o movimento de guerrilha mais mediático e pragmático da África Austral, quiçá o mais experiente. A África Austral deve à FRELIMO, muito mais:
Graças a FRELIMO, os povos vizinhos gozaram delícias de sua independência, enquanto, os nossos velhos e crianças eram bombardeados por Ian Smith nas bandas de Mapai, ora pernoitando nas longas filas para a compra de um pedaço de peixe e alguns quilos de farinha. Foi a FRELIMO que é o povo, que pagou o preço mais alto da independência dos moçambicanos e de outras nações. Foram militares da FRELIMO que se encarregaram de “ bater” Idi Amin até Kampala e muitos não regressaram. Uns tantos morreram pelo Zimbabwe. Foi a pesada cruz onde seriam crucificados seus filhos em nome da paz e liberdade na África Austral. Quem reconhece todo este esforço e preço da solidariedade, senão por certos gestos que a língua grega chamou de “xenofobia?” “ Compatriotas!”A FRELIMO é o povo” –“é ou não é”?
Em filosofia isto significaria que esse povo é por sua vez a FRELIMO. Ao longo dos seus 50 anos aprendeu de verdade dos seus erros próprios do passado, como qualquer um de nós é susceptível de errar, incluindo a própria Igreja. Ė precisamente aqui donde queria começar. Entre a FRELIMO e a Igreja (protestante, católica e outras), tem havido nos últimos dias o que eu chamaria de “um diálogo mudo”! Eis chegado o momento em que este diálogo deve ser convertido em palavras. Precisamos aqui de palavras que exprimam claramente que esse “objecto estranho”, que é a Igreja, por vezes repudiado, é parte e fez parte desta FRELIMO dos 50 anos. Esta Igreja quer protestante ou católica foi parte integrante desta longa caminhada da FRELIMO. Quer a Igreja como a FRELIMO devem ter a humildade suficiente de se aproximarem e se reconciliarem mutuamente. Devem pois, procurar reatar suas relações anteriores à luta de libertação e ao conflito armado. A Igreja deve vir e se apresentar humildemente à FRELIMO e vice-versa, como companheiro de longa data, afirmando seguramente que foi Ela (Igreja) que se encarregou de preparar as bases ideológicas sobre as quais os movimentos políticos libertadores vieram a operar. A Igreja deve afirmar publicamente que nos anos 1920 em diante iniciou um movimento ideológico lutador pela emancipação da própria Igreja e dos seus povos: Foram os padres, pastores e bispos que deram instruções aos seus catecúmenos para que enveredassem pelo caminho da luta e da emancipação.
Agumas dessas Igrejas nos anos 1920, já ensaiavam seus hinos e levantavam suas bandeirolas; avisavam ao colono sobre a luta que vinha orientada pelo próprio Deus e que esse mesmo Deus enviaria o seu profeta Moisés para encarregá-lo de conduzir esse mesmo povo para a terra prometida, a terra que mana leite e mel. Esta FRELIMO teológica e utópica idealizada pela própria Igreja injectou a consciência nacionalista e patriótica a partir do interior da capela. As Igrejas Independentes - assim eram chamadas-, constituíram as primeiras zonas de libertação. Foram pastores protestantes e padres progressistas que trouxeram o evangelho da liberdade para as massas oprimidas; que transportaram os ideais do ANC, para o interior do país, que insultaram o colono e o prometeram a “morte”.
Foi através da oração que foi soprada a hipocrisia e a ganância do colono; foi através da Bíblia que se desvendou o mistério da luta pela libertação. Mais tarde, foi a Igreja que emprestou os seus melhores quadros (Eduardo Mondlane, Manganhela e outros mais), para agilizarem a luta e devolver a liberdade prometida por Deus ao seu povo. Depois da Independência Nacional, a Igreja não se ficou por aí, continuou oferecendo os seus filhos para assumirem os papéis de grupos de vigilância; de grupos dinamizadores e ofereceu quadros da OMM. Sim, falo daquelas carismáticas senhoras da OMM, oriundas das diversas denominações como sendo católicas e protestantes, as quais tomaram conta do recado e organizaram o povo. Aquelas carismáticas senhoras que asseguraram a revolução foram formadas, forjadas e moldadas pela igreja. Compatriotas! “A FRELIMO Ė O POVO-Ė OU NÃO Ė? ”Somos nós! Ė a própria IGREJA: Falo da Frente de Libertação de Moçambique.
  • Marcos Efraim Macamo