terça-feira, 4 de setembro de 2012

Documento divulgado pelo Departamento de Estado americano revela posição ambígua de Kenneth Kaunda

No período da luta anti-colonial

Pretória (Canalmoz) – Na nossa edição de ontem, fizemos referência à divulgação, pelo Departamento de Estado norte-americano, do 28° Volume de documentos relacionados com a política externa norte-americana no período compreendido entre 1969 e 1976. Do vasto número de documentos, consta o “memorando” de um encontro realizado na Casa Branca a19 de Abril de 1975, entre uma delegação zambiana chefiada pelo presidente da Zambia, Kenneth Kaunda, e o presidente norte-americano, Gerald Ford. Kaunda fez-se acompanhar do ministro dos negócios estrangeiros zambiano, Vernon Mwaanga, do assessor presidencial, Mark Chona, e do embaixador zambiano nos Estados Unidos, Siteke Mwale. Presentes estavam ainda o secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, e o seu assistente para os assuntos africanos, Nathaniel Davis.
O “memorando” deixa transparecer de forma clara a intenção de Kaunda em obter apoio americano para a UNITA na sequência do golpe de Estado de 25 Abril em Portugal.
Kaunda pretendeu criar a impressão entre os seus interlocutores de que a Zâmbia não havia apoiado a UNITA antes desse golpe, mas que também “não a havia ignorado”. Contradizendo-se, Kaunda disse depois que a Zâmbia havia proposto o reconhecimento de Savimbi pela OUA, acrescentando que os dirigentes do partido então no poder na Zâmbia, a UNIP, “haviam ficado impressionados com a sinceridade e honestidade de Savimbi”.
Diz o “memorando”que durante o encontro na Casa Banca, Kaunda alegou que não era somente a Zâmbia que tinha essa opinião de Savimbi. Segundo ele, Samora Machel partilhava da mesma opinião.
Rezam os factos, que a Frelimo apostou sempre numa tomada do poder em Angola pelo MPLA. Já depois da independência de Moçambique, a Frelimo enviou tropas e equipamento militar para defender as forças de Agostinho Neto, em Luanda. Em livro de memórias publicado recentemente, Sérgio Vieira revelou que o governo moçambicano havia enviado para a capital angolana os chamados “órgãos de Stalin” para assegurar a vitória do MPLA na contenda que envolvia a FNLA e a UNITA e respectivos aliados.
A uma pergunta do presidente Gerald Ford se havia “diferenças ideológicas substanciais” entre os líderes angolanos, Kaunda respondeu que “o MPLA e o seu líder, Neto, seguem a linha de Moscovo” e que “o MPLA é financiado por Moscovo”.
Lê-se ainda no “memorando” que Kaunda alegou que os líderes da África Austral haviam concordado que Savimbi deveria ser o futuro presidente de Angola, mas que a ideia “não havia ainda sido apresentada a Savimbi”. Kaunda salientou que “independentemente do resultado das eleições a terem lugar em Angola, Savimbi será o presidente”.
A evolução da situação política angolana permitiu que Kaunda se evidenciasse como o líder da África Austral que mais se opôs à intervenção cubana em Angola, prestando à UNITA e ao seu líder, Jonas Savimbi, todo o apoio da Zâmbia.
À medida que os Estados membros da OAU iam reconhecendo o governo do MPLA, Kaunda, num volte face, declarou-se inimigo figadal de Savimbi e da UNITA, à semelhança daquilo que havia feito antes em relação ao COREMO, movimento moçambicano amparado pela Zâmbia desde a sua fundação em 1965, mas que depois do golpe de «25 de Abril», os seus líderes e quadros militares seriam presos e muitos deles entregues pelas autoridades zambianas à Frelimo para “julgamentos populares” em Nachingwea. Kaunda fez questão de estar presente nesta base militar da Frelimo em território tanzaniano para dar o seu aval aos ditos “julgamentos”. (Redacção)