sábado, 18 de agosto de 2012

Um grito sobre o Património

Um grito sobre o Património

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Texto e fotografia de
Glória Santos
A riqueza de um país mede-se pelos seus recursos, minerais, naturais e histórico-culturais – o seu património. Património que, no nosso País, está a saque, abandonado ou a desaparecer.
Os recursos minerais, por exemplo: jazidas de ouro e pedras preciosas  são explorados por empresas desconhecidas pelo povo, ou, ilegalmente, por zimbabweanos.
Os recursos naturais de relevo como as belas ilhas dos Arquipélago das Quirimbas e de Bazaruto são explorados por cadeias internacionais de hotéis – onde o turista paga tudo no local de origem. Os contactos para se fazerem as reservas nesses lugares passam pela África do Sul.
Será que os turistas sabem que estas ilhas estão em território moçambicano?
A pergunta é: as receitas do turismo entram para os nossos cofres? 
Montanhas com formações rochosas gran­diosas, como o Monte “Cabeça de Velho” no Chimoio, correm o risco de desaparecer por causa da extracção de pedra para a construção, a que estão sujeitas.
Florestas, no Niassa, estão a ser desmatadas para a exploração de madeira por concessionários chineses. Dá vontade de gritar !
E o património cultural? Esse... não é lucrativo ! Por isso, vive ao abandono! Como os painéis de pintura rupestre nas montanhas de Chimanimani, Vumba e Riane; as Igrejas e palácios de arquitectura colonial, do fim do Séc. XIX, que se encontram espalhados, pelo País, são testemunho de um passado que vai desaparecendo – ruindo, simplesmente, como na Ilha do Ibo, - ou transformando-se em caricaturas do que tinham sido, com modernizações cegas, próprias de quem nada entende de estilos arquitectónicos e seu valor.
Como o que tem acontecido com os edifícios do início do século que se encontram na baixa da cidade.
Em qualquer país que tem uma história colonial, exemplo de Cabo Verde, Brasil, Argentina, Chile etc., o património - os edifícios, os monumentos, as estátuas – são conservados e enaltecidos como riqueza de uma cidade, de um país - uma mais valia para o turismo do país.
Mas, em Moçambique, não! Tem-se vergonha dele, arruma-se a um canto as estátuas, deixa-se destruir casas, e locais históricos.
Como o que vai acontecer com a Vila Algarve – um edifício de belíssima arquitectura, com painéis de azulejos, pintados à mão, de beleza impar, importantes em qualquer parte do mundo – um edifício que poderia ser destinado a um museu, enriquecendo a oferta cultural da cidade de Maputo. Mas não !
É mais rentável que seja deitada abaixo a História e vença a ganância desenfreada! ... Um prédio de escritórios e apartamentos de luxo ! Sim ! É o que está a dar !
Espaços como o da Vila Itália, o Clube dos Empresários, e alguns casarões da Av. Julius Nyerere irão dar lugar a uma nova cidade, mais moderna, fria e impessoal. Mas o que interessa isto para os detentores do dinheiro? Negócios são negócios! Além disso, o novo-riquismo, não tem história. Tem estilo (americano) !
A mim, o que me admira é um governo, que por um lado, aposta no turismo como motor para o combate à pobreza absoluta, e por outro, permite que se destruam os elementos essenciais para atrair o turismo.
A preservação do património tem uma importância fundamental para o desenvolvimento e enriquecimento cultural de um povo. Os bens culturais guardam informações, significados, registos da história humana – reflectem ideias, crenças, costumes, condições sociais, ou políticas de um grupo numa determinada época. Pois, são esses registos culturais que nos propiciam um momento de reflexão e de crítica que nos ajudam a localizar o grupo cultural a que pertencemos, e a conhecer outras expressões culturais, cujas semelhanças nos complementam e cujos contrastes dão forma ao povo moçambicano.
Estamos a caminho de ser um País, um povo, sem riquezas. Corremos o risco de perder as referências histórico-culturais! Cruzamos os braços e desistimos... ou lutamos pelo que é de todos nós?
Contudo, gostaria de lembrar que a história não se apaga.
Jamais!
SAVANA – 11.06.2010
NOTA:
Sim a HISTÓRIA não se apaga. Mas quem quer que a encontremos? A FRELIMO não, até prova em contrário.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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