sábado, 18 de agosto de 2012

"Traição de Omar" faz correr lágrimas em Spínola (3)

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O significado da queda Nametil *
Rompia a manhã a 1 de Agosto de 1974, no aquartelamento do exército colonial, chamado de «Ornar», mas cuja verdadei­ra designação era Nametil. Estava no seu comando interino o alferes José Carlos Monteiro. Para eles, certamente, a guerra já tinha acabado, perdidos num ermo de Cabo Delgado, com uma vista monótona para a fronteira com a Tanzânia. Haviam mesmo começado a destruir algum material, pois estava previsto o seu encerramento. Ignoravam que eram, há muito, objecto de espe­cial atenção, e que iriam ficar registados na história.
Em Naschingwea, face ao impasse negocial, depois das fa­lhadas negociações de Junho, era necessário realizar uma acção capaz de acelerar a marcha dos acontecimentos. Escolhe-se o posto de Ornar. Estudam-se as suas envolventes e chega-se mes­mo a fazer uma maqueta do aquartelamento. Ou a operação re­sultava em pleno ou as suas consequências poderiam ser sérias e reacender a guerra, quando da parte de uma das partes existe um estado de cessar-fogo. Samora Machel, pessoalmente, estabele­ce a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem. A 31 de Julho as forças da FRELIMO, as FPLM, tinham cercado por completo o aquartelamento. Inclusivamente colocado artilharia. Era respon­sável por esta operação no terreno o comandante Salvador Mtu-muke. Bem próximo do local, numa montanha, encontravam-se, em atenta observação, o adjunto do Departamento de Defesa, Alberto Joaquim Chipande, assim como o comandante do de­partamento de Defesa de Cabo Delgado, Raimundo Pachinuapa. Tinham instalado um sistema de comunicações entre a fren­te de operações, a base de comando e a Tanzânia, onde Samora Machel aguardava com grande impaciência o desenrolar do pla­no estabelecido.
Quando rompe a aurora do primeiro dia do mês de Agosto de 1974, os cento e quarenta soldados do aquartelamento de Nametil são acordados por megafones solicitando a sua rendi­ção. Todos estes pormenores da tomada de Nametil foram gra­vados. A guarnição militar rende-se. Cento e quarenta homens são feitos prisioneiros e três conseguiram fugir. Seguirão para a Tanzânia, onde chegam a 6 de Agosto. Independentemente da controvérsia, se a rendição resultou de um equívoco ou simples­mente da tomada de decisão mais sensata do seu comandante de não combater, face à situação política que se vivia e mesmo tendo em causa a desproporção do equipamento e das armas, a tomada do quartel de Nametil não pode deixar de ser mencio­nada pelos reflexos que teve. Mais do que uma vitória militar era uma vitória política.
O presidente Spínola, com condição para uma ronda nego­cial, que se inicia a 15 de Agosto, em Dar-es-Salam, exige que a FRELIMO apresente desculpas pelo ocorrido em Ornar. Samora que engenhosamente tivera a percepção de tudo gravar, faz com que a delegação chefiada por Melo Antunes escute essa grava­ção. O que foi suficiente.
O que se passou a 1 de Agosto, nesse aquartelamento, poder-se-ia passar em qualquer outro ponto do país. Havia, da parte do exército português, a total falta de vontade de dar mais um tiro e muito menos de continuar uma guerra. Há factos indesmentíveis dessa realidade. O próprio general António de Spínola o admite e escreve que a tomada de Omar era «uma arma decisiva»494 para Samora Machel na mesa de negociações. De militar para militar efectivamente assim o foi.
494 António de Spínola, País sem Rumo – Contributo para a História de uma Revolução. Ed. Editorial SCIRE, p. 302
In MOÇAMBIQUE 1974 – O fim do Império e o Nascimento da Nação, de Fernando Amado Couto(2011)
*Omar, para as autoridades portuguesas.
NOTA:
Se se comparar este texto com o que o Comandante Almeida e Costa relata, tanto Almeida Santos, como Melo Antunes mentiram ao General Spínola, além de não lhe fazerem a comunicação imediata dos acontecimentos de 1 de Agosto de 1974.
Diz Almeida e Costa: “Não só pelas três sessões de trabalho mas, sobretudo, pelo teor das surpresas que os esperam. A começar pela notícia de que a Frelimo tinha capturado uma companhia inteira de militares portugueses em Omar, no norte de Moçambique. Como se isso não bastasse, Samora insistiu que se ouvissem as gravações e as entrevistas feitas com os soldados capturados, apelando à rendição das forças portuguesas. «Foi muito confrangedor», explica Almeida e Costa. Incluindo para o terceiro-mundista Melo Antunes, que não resistiu a um desabafo: «Merda, assim não se pode fazer nada». In http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/08/1_de_agosto_de__2.html
Assim a cassete veio para Portugal a 3/4 de Agosto e não a 17/18 de Agosto.
Porque a não apresentaram de imediato ao General Spínola?
Escreve o General Spínola:
“Assim, quando em 15 e 16 de Agosto, a Delegação Portuguesa (13) se sentou à mesa das negociações em Dar-es-Salam, a facção predominante do MFA, ali repre­sentada pelo Major Melo Antunes, já estava ao lado do chamado Movimento de Libertação e, para que ainda se retirassem às forças políticas todas as possibilidades de soluções razoáveis, recorreu-se a formas de pressão impen­sáveis e só possíveis num quadro de alta traição.
“Na mesma ocasião fui informado de que aquela reunião havia sido aberta com a audição de uma fita gravada da «rendição» de uma companhia metropoli­tana no Norte de Moçambique, num cenário concertado com as cúpulas marxistas do MFA e conhecido pela «traição de Omar» (14), gravação que ficará a assinalar uma das páginas mais vergonhosas da História do Exér­cito Português ao oferecer a Samora Machel, na mesa das negociações, uma arma decisiva. As afirmações pro­duzidas no «acto da rendição», designadamente as sau­dações à FRELIMO, como libertadora de Moçambique e do próprio povo português, constituíram prova irrefu­tável do índice de prostituição moral a que haviam che­gado alguns militares portugueses.” (In O PAÍS SEM RUMO, de António Spínola).
Ora, a fita gravada, segundo Almeida e Costa, já fora ouvida por ele e Melo Antunes na anterior estadia entre 31 de Julho e 3 de Agosto.
Agora escutem o que Almeida Santos diz sobre a reunião de 15/16 de Agosto à SIC em http://www.macua1.org/blog/sicalmeidasantos.html
Para quê este “teatro”?
Mas porque é que “Samora Machel, pessoalmente, estabele­ce a táctica. E recomenda, com alguma estranheza para alguns, que a acção seja gravada em som e imagem.”(In Moçambique 1974, de Fernando Amado Couto)
Porque era preciso impressionar e levar o General Spínola a aceitar o que há muito já estava combinado entre o PS, PCP e FRELIMO, desde uma célebre reunião em Paris, onde, entre outros, a FRELIMO esteve presente. Recorde em http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/04/a-outra-face-do-25-de-abril.html#more
E, para que não restem dúvidas, o autor da Newsletter aqui reproduzida, ainda felizmente vivo, me confirmou todo o seu conteúdo.
Resta ler-se a entrevista do Alferes Comandante em OMAR na altura, para se poder comparar do que é real do que é ou foi forjado.
Recorde aqui
Negando o então Alferes comandante de Omar ter proferido as afirmações que lhe são atribuídas por Almeida Santos, porque nunca foi tornada pública a cassete apresentada ao General Spínola? Será que ainda existe? Porque nunca foi ouvido qualquer dos elementos da companhia aprisionada?
OMAR e WIRIAMU são dois acontecimentos cuja génese ainda não foi totalmente dissecada. Mas que serviram na perfeição para a descolonização que foi feita.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

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