quarta-feira, 22 de agosto de 2012

QUEM MENTE? O Poder ou os historiadores?

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Anigugui
Por Samuel Matusse
Muitos actos impor­tantes da nossa Histó­ria têm duas vertentes e como é óbvio, um mes­mo facto não pode ter acontecido de duas ma­neiras diferentes, se isso se verificar, significa que uma ou todas são falsas!
Às vezes até são factos simples que não precisam de qualquer es­camoteamento, mas mes­mo assim, aparecem com várias versões, porquê?
Por exemplo, as crian­ças são ensinadas que Samora celebrou a Inde­pendência às zero horas do dia 25 de Junho de 1975, mas hoje aparecem vozes que dizem que quando Machel chegou ao Está­dio da Machava, já pas­sava das zero, logo, não pode ter celebrado àquela hora. Qual é o problema de dizer a hora exacta em que foi celebrada a nossa independência? De facto os Acordos de Lusaka podem rezar isso, mas depois na prática, por di­versos motivos, o funda­dor da nossa República não pôde cumprir, que se diga a verdade, porque isso não retira nada... o mais importante é ter­mos ficado independen­tes,.. (obrigado Samora)!
Uns dizem que Ma­chel se atrasou por causa da chuva que caía naque­le dia, outros que perdeu a hora porque estava num "alto papo" com o Grande Homem Álvaro Cunhal, conhecido de todos nós! Qualquer destes motivos é plausível, se isto é ver­dade, porque não dizer?
Também existem várias versões de quem deu o primeiro tiro e o lugar onde foi dado... porquê tudo isso?!
Mesmo sobre o Massacre de Mueda, já há duas versões. Há quem diga que morre­ram 600 pessoas e ou­tros dizem que foram 30. Qual é o número certo?
Já não digo quando se fala donde morreu o Obreiro da nossa Unida­de Nacional! A História "oficial" sempre disse que o fatídico aconte­cimento deu-se nos es­critórios da Frelimo em Dar-es-Salam, mas ulti­mamente aparecem vo­zes, mesmo de dentro do Partido, que dizem que Dzovo morreu em casa duma sua amiga ameri­cana chamada Bety King!
Algumas vozes fa­zem notar que Bety era amiga no bom sentido da palavra e que tal casa era restaurante e lá King vivia com o seu marido!
Penso que com esta explicação pretende-se dizer que não havia nada de... orgia! Todavia, é uma explicação escusada!
O que está em cau­sa é referir que morreu no escritório quando não é verdade! Não enten­demos porque se oculta que Dzovo morreu fora do escritório porquanto o que fez com que o inimi­go lhe enviasse a bomba, foi o facto de Dzovo que­rer nos libertar a todos nós? (obrigado Dzovo!)
O inimigo não lhe matou porque foi à casa da Bety! Aliás, por mais que Dzovo tivesse perdi­do a vida por uma causa não directamente ligada à Causa Nacional, para nós, o povo, seria o nos­so Herói porque nós não definimos o Herói pela forma como morre, mas sim pelos seus feitos em vida. Um Homem pode ser Herói a vida inteira e depois morrer de ma­lária... vai deixar de ser Herói porque não mor­reu em combate? Não!
Há algum mal em Dzovo ter pegado do­cumentos no escritório para ir dar "uma olhada" num restaurante enquanto "enganava o estômago" talvez com um chazito?! Nós, o povo, sabemos quanto Dzovo por nós se sacrificou ao deixar um trabalho tão bem remunerado na ONU para vir lutar por todos nós, o que é que pode anular tudo isto dos nossos corações?! Os inimigos do povo já descobriram que o Po­der tem... mentido muito (desculpe-me a since­ridade!) para o povo e aproveitam-se disso para criarem suas versões mesmo naquilo em que, excepcionalmente, o Po­der disse-nos a verdade!
Vejam que os inimigos do povo aproveitando-se das frequentes distorções da História têm nos es­tado a dizer que existem dois Heróis Nacionais que saíram da cripta! É claro que não acredita­mos, mas nos faz mal...
E as ossadas que Chelito trouxe da Tuga em Junho de 1985, são ou não de Gungunhana? Os jor­nalistas da Tuga disseram ao saudoso Albino Magaia que Chelito estava a ser fintado, é verdade?! Afi­nal de contas o que é que na nossa História tem uma única versão?! O nosso poder...  mente muito...
Ultimamente o País tem novo Hino Nacio­nal, tão lindo quanto o primeiro! Quantas vezes ouvi pessoas a assobia­rem o "Pátria Amada"! Não é por falta de respeito àquele Símbolo Nacional, mas a sua extraordinária beleza, amiúde nos tenta a assobiar... há moçam­bicanos que em pleno içar da bandeira, são tentados a bater compassadamen­te com o pé no chão!
É que o nosso Hino foi bem cozido! Mas como no nosso País já é moda as páginas da História terem duas versões, o "Pátria Amada" também não é excepção, ninguém con­segue dizer-nos ao certo quem é o autor daquela toda maravilha! Alguns dizem que é co-autoria do Dr. Salomão Manhiça e do Maestro Chemana, mas outros dizem que não é nenhuma co-auto­ria, tudo aquilo é fruto da extraordinária massa cinzenta do Dr. Manhiça!
Curiosamente, na Homenagem organizada pelo B.M., a título póstu­mo, para o maestro Che­mana no dia 19 de Junho de 2008, mano Guebas disse-nos que aquele era co-autor do Pátria Ama­da! Mas, muitos enten­didos continuam a dizer que Manhiça, sozinho, esmerou o Pátria Amada!
Eu, como doente de música, um dia telefo­nei para um entendido a perguntar quem na ver­dade era o autor do Pá­tria Amada, em resposta disse-me: "o de Portugal é Alfredo Kheil, o daqui não sei bem se é Ma­nhiça sozinho ou Ma­nhiça   com Chemana!"
Não é isto uma ver­gonha?! Conhecemos o autor do Hino dum Pais irmão e não conhecemos o do nosso?! A culpa é do Poder que mente muito!
Quem é na verdade o autor do Pátria Amada? Digam-nos a verdade, só queremos saber!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 02.02.2011

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