domingo, 12 de agosto de 2012

Os grandes objectivos da Frente (da Frelimo) de Tete

Os grandes objectivos da Frente (da Frelimo) de Tete

Ouvir com webReader
InicioLutaTete_capaO antigo Distrito de Tete desde o inicio da luta que foi, potencialmente, uma frente. De facto, tal como em relação a Cabo Delgado e Niassa, também Tete tinha uma rectaguarda de moçambicanos no Malawi que cedo se ligaram a FRELIMO para preparar, a par­tir de 1964, formas de luta armada na região. Toda­via, a incipiente organização militar, o fraco tra­balho com as populações no interior, a posição do Governo do Malawi, intransigente na proibição da circulação de armamento através do seu território, constituíram factores de fracasso da Frente em 1965, logo após a sua abertura6.
Seguiram-se então três anos em que a situação parecia aparentemente paralizada, caracterizada pe­las dificuldades de actuação do DOI e em que o COREMO [Comité Revolucionário de Moçambique] figura mais na documentação portuguesa devido a realização de acções espectaculares. Três anos durante os quais a FRELIMO, o seu DOI e o seu exército, procuravam crescer. Nesse mesmo período o seu aparelho manteve-se no Malawi e, em certa medida, ate cresceu, dentro dos limites que o Governo malawiano lhe permitiu. De facto, essa presença era importante e não poderia ser substituída por uma presença massiva na Zâmbia, por exemplo, pois garantia uma rectaguarda da Fren­te do Niassa, sobretudo do Niassa Austral, uma pos­sibilidade de actuação na Zambezia e uma ameaça constante a região da Mutarara, fundamental porque abria as portas para o centro de Manica e Sofala e porque por ela passava a linha férrea Beira-Moatize, que iria ganhar uma significação particular.
Em paralelo, a FRELIMO procurava intensamente estabelecer-se na Zâmbia. É natural que no início de 1966 tivesse prevalecido a ideia de descer pelo Niassa Austral através da região de Mecanhelas, para fazer uma grande base central na Zambézia, de onde a guerrilha irradiaria para Sul, para Manica e Sofala, e para Tete, no Oeste, evitando-se assim os obstáculos postos pelo Malawi e atribuindo-se, portanto, a Mutarara, via de penetração para Tete, mais uma razão de importância. Porem, as dificuldades de penetra­ção por Mecanhelas e os desaires ai ocorridos no principio do ano, inviabilizando esta estratégia 7, terão reforçado a importância atribuída a Zâmbia co mo via de penetração e rectaguarda da luta na Fren­te de Tete.
Criadas as condições de penetração, com um apa relho de actuação reactivado no interior, com um exército reestruturado, a FRELIMO poderia rapidamente iniciar a luta em Tete. Esse passo afigurava-se fundamental no quadro da estratégia global da luta de libertação. De facto, a abertura de mais uma frente iria aligeirar a pressão feita pelas forças coloniais sobre as restantes, iria permitir que a FRELIMO chegasse fisicamente junto de mais um grande número de moçambicanos e, na frente diplomática, daria uma ideia bem concreta do avanço da luta de libertação. Depois, uma sólida implantação em Tete permitiria a FRELIMO o prosseguimento dos seus dois grandes ob­jectivos estratégicos na região: ameaçar a constru­ção da barragem de Cabora Bassa e abrir uma via de passagem que permitisse a travessia do rio Zambeze para atingir o Distrito de Manica e Sofala, no cen­tro do país.
Eduardo Mondlane, nos inícios de 1968, explicava ao jornal norte-americano "The Sun" o significa­do estratégico do projecto de Cabora Bassa8, que implicava a construção da barragem e a criação de uma extensa zona irrigada. Esta permitiria a instalação de um milhão de colonos portugueses, segundo o pro­jecto, que além do desenvolvimento acelerado que operariam na região, que estava dentro das perspecti­vas coloniais, constituiriam uma importante barrei­ra à penetração da guerrilha. Mais importante ainda era a internacionalização do conflito que a própria construção da barragem implicaria. Esta, com efeito, para ser rentável, produziria energia também, e so­bretudo, para a Republica da África do Sul, que te­ria igualmente um papel importante no financiamento do projecto. Uma vez construída a barragem era, portanto, praticamente certa a presença posterior do exército sul-africano na sua defesa. A FRELIMO pro­curaria, por isso, impedir ou atrasar o mais possível a construção do empreendimento, quer sabotando a via férrea Beira-Moatize, por onde passaria o grosso do equipamento para o projecto, quer aproximando -se o mais possível do local de construção, visando ameaçá-lo militarmente.
Por outro lado, se o vale do rio Chire, atra­vessando a Mutarara, constituía a via mais curta e mais favorável, do ponto de vista geográfico, para se atingir o rio Zambeze, o que é certo e que o es­trangulamento da zona, que poderia ser bem defendi­da, e, sobretudo, os obstáculos criados pelo Malawi, tornavam impossível o estabelecimento de um corredor seguro que conduzisse a Manica e Sofala. Era neces­sária, portanto, através da generalização da luta armada no território de Tete, a criação de vias de penetração alternativas que permitissem chegar e atravessar o rio Zambeze.
Se tais objectivos se foram tornando claros nos anos de 1966 e 1967, eles teriam também que ter em conta as forças que serviriam de base ao seu prosseguimento. Seguramente que uma parte importante des­sas forças se encontrava estabelecida e organizada no Malawi e na Zâmbia.
In O INÍCIO DA LUTA ARMADA EM TETE, 1968-1969, de João Paulo Borges Coelho (págs. 48/51)
NOTA:
Apesar de toda a oposição da FRELIMO, Cahora Bassa foi construída e hoje “é nossa”.
Suponhamos que a FRELIMO teria conseguido os seus intentos? Moçambique estaria hoje às escuras.
Mas se existiam planos de irrigação para a fixação de um milhão de portugueses no Vale do Zambeze, porque o não aproveita a FRELIMO ali fixando moçambicanos, dando-lhes uma vida digna?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE

Comments

1
umBhalane said...
"instalação de um milhão de colonos portugueses"
Não fosse a sabotagem pelo PCP, destruição, do centro de clonagem que Salazar erguera, realmente seria possível colocar 1 milhão de colonos portugueses por ano!!!
A tecnologia de produção em massa de seres humanos, no caso o Lusitanius laboratorium, spp estava bastante adiantada no tempo, e de âmbito muito restrito/fechado/secreto.
Era exclusivo de Portugal, ao tempo do Dr. Salazar.
Só muito mais tarde aconteceu a ovelha dolly, facto de divulgação generalizada.
Tecnologicamente, na produção em série de seres humanos, Salazar estava muitíssimo adiantado para a época.
Tenhamos em conta que os CLONES já teriam que ser adultos para a ocupação efectiva do terreno, o que, feitas as contas, implicaria para a data-início do projecto, qualquer coisa como 1950/1951.
Em 1971/1972 teriam à volta de 20 anos.
Enigmas da estória, e da ciência.
A LUTA É CONTÍNUA

Sem comentários: