quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Não há máquina partidária que seja invencível ou inamovível

A democracia faz-se todos os dias

Por Noé Nhantumbo
Urge travar a impetuosidade dos promotores de ilicitudes. Quem espera pelos pleitos eleitorais para denunciar ilicitudes condena-se à derrota. Combater pela democracia é hoje, amanhã, todos os dias…
Não se pode adiar o combate pela democracia em Moçambique.
Não se pode ter medo de supostos colossos. Não há máquina partidária que seja invencível ou de algum modo inamovível.
O fatalismo que certas correntes pretendem fazer passar à sociedade e levar a vingar no seio dos moçambicanos é falsa retórica dos que afinal são de facto contra a democracia.
Esses querem fazer crer que os moçambicanos estão contentes e satisfeitos com a fraude generalizada, com a manipulação, com a compra de votos, com a invalidação de votos válidos de adversários políticos, com a utilização abusiva e contra a lei de meios do Estado, com a recolha de dinheiros do Estado nas empresas públicas e privadas para financiar campanhas de quem está no poder. Parece que algumas correntes do pensamento político moçambicano praticam o provérbio “enquanto os cães ladram a caravana passa”.
Mas isso não só é grave como de consequências profundamente prejudiciais ao projecto de construção de uma nação forte, equilibrada e desenvolvida.
Um dia quando não se acreditar mais em eleições usa-se a força e lá vem a “Primavera”…
Comprar votos ou através de engenharias financeiras colocar fundos do Estado ao serviço da angariação de votos, financiando campanhas políticas via FIL (vulgo “sete milhões”), é atacar os fundamentos da democracia e isso está a acontecer com a ingerência externa através do Orçamento do Estado de onde saem fundos para esses malabarismos.
Não tenhamos dúvidas de que uma parte considerável dos proclamadores da independência nacional não se consegue imaginar fora do poder e vivendo como cidadãos normais, mas têm de aceitar isso como uma normalidade. A bem seria o ideal para se evitar que o País sofra as consequências de uma solução exaltada. Ou a mal se não se renderem à evidência de que a paciência tem limites. Mais tarde ou mais cedo as próprias forças armadas se renderão à evidência de que o seu papel é servir o povo e não o governo do dia…
Os subalternos, entenda-se…
Os esquemas montados ao nível da comunicação social pública são um exagero abertamente contra a democracia. Os editores dos jornais e estacões de televisão pública e da RM tem direito de pertencer ao partido político que quiserem mas isso não deve ser feito à custa da gestão danosa dos recursos públicos colocados nas instituições que dirigem. Cada vez que se recusam a dizer a verdade aos moçambicanos concorrem para a distorção do ambiente político no País de todos nós. O abuso dos recursos públicos, o roubo mais ou menos descarado de dinheiros públicos acontecem com cumplicidade dos editores dos órgãos de comunicação social públicos porque ao saberem de atropelos se recusam a denunciá-los. Dá a impressão que primeiro telefonam para a “Casa Branca” da ex-Pereira do Lago – que alguém já se apressou a mudar o nome como convinha para Rua da Frente de Libertação de Moçambique – e só depois de autorização e orquestração da notícia é que se dá a conhecer aos moçambicanos uma meia verdade. A auto-censura favorecendo as intenções e aspirações políticas que amiúde manifestam é de tal maneira vergonhosa que não se pode deixar de denunciar.
Os especialistas em “cozinharem e adocicar notícias” devem ser catalogados como “inimigos da democracia”. Quem procura por todos os meios ilibar culpados, pintar com belas cores cenários putrefactos só pode ser tido como contrário às aspirações legítimas dos moçambicanos.
Já é tempo de toda a “corja indigesta de lambebotas profissionais” ser varrida do cenário da comunicação social moçambicana. “Não de deve dar pão para bandidos”.
A gravidade da situação e o nível de desplante alcançado é de tal ordem que os promotores e mentores de ilicitudes de todo o género, já não escondem o que fazem. Em plena luz do dia, em todo o País, se observam autênticos assaltos aos meios do Estado para suportar e apoiar actividades do partido Frelimo para tentarem perpectuá-lo no poder.
Mas tudo isso é rapidamente ignorado por pessoas bem identificadas agindo a partir de posições de chefia na TVM, RM, jornal Noticias, Domingo. Ou não é verdade o que eu escrevo?
A questão não é o direito de tendência mas a promoção de uma cultura que respeite os direitos dos moçambicanos a uma vida digna, governação com agenda centrada neles e não nos apetites de enriquecimento ilícito por a quem convém o “empoderamento económico negro”.
Continuar a construir Moçambique com fundamentos que personificam corrupção, nepotismo e ilegalidade numa acção que provém dos mais altos centros do poder político e governamental é condenar este país à morte entanto que Estado. Depois admiram-se que haja países que ficam como a Somália…
Rouba-se, pilha-se, desvia-se, encobre-se, assalta-se, incendeiam-se provas, atrasam-se julgamentos de prevaricadores e criminosos, ordenam-se acções sumárias contra indivíduos e instituições tudo de modo a que o status não seja perturbado.
Alguns defendem a tese de que “mais vale a pena que o conhecido se mantenha porque os que vierem ainda estarão preocupados em encherem-se”. Há variantes de manifestações de agendas que estão sendo postas em prática por quem nem concebe nem admite que seja possível abandonar algum dia o poder.
Há moçambicanos que têm uma mentalidade perigosa no sentido de que não conseguem funcionar sem estar atrelados ao poder. Muita ferrugem mental transforma até tecnocratas de reconhecido mérito em agentes de um sistema político esgotado e entorpecente.
O País pode andar para a frente sem algumas das personalidades distorcidas que se supõem proprietárias de Moçambique e de Nós.
O facto de todo o sistema judicial estar fortemente amarrado a decisões de um centro de produção de orientações e instruções com sede na sede de um partido tira ao Estado a sua importância e só Estado tem legitimidade. A actual prática asfixia sem dúvidas qualquer hipótese de criação de um ambiente democrático no País e onde não respeito pelos outros e pelas minorias, há direito a reacção nem que seja violenta.
Todos temos uma visão para o País e o Estado não pode ter uma visão só para alguns.
A questão não é gostar deste ou daquele partido. O que se deve colocar acima de tudo é o país e o seu povo. E quem não consegue respeitar este princípio só pode esperar tempestade.
Não é de duvidar que as coisas estariam correndo e não a marcar passo no mesmo lugar se houvesse abertura e transparência na maneira de governar o país.
Conceber e produzir soluções para os problemas do País requer que os políticos de todos os quadrantes entendam que só a eliminação da exclusão como política oficial dos partidos levará a que a criatividade dos moçambicanos se manifeste.
Alterar dinâmicas e comportamentos faz mais falta do que recursos financeiros muitas vezes tidos como o elemento que faz descarrilar a execução dos programas do governo.
Um “conclave de cardeais” pretendendo liderança única e insubstituível deste País que não é só deles mostra todos os dias o quanto já não consegue produzir soluções para os problemas vividos pela maioria dos moçambicanos.
Ninguém neste País despreza o papel desempenhado por diversas figuras no processo de luta anti-colonial. Também merece o respeito dos moçambicanos a abnegação e luta pela democracia que teve carácter de guerra civil. Se hoje falamos uns com os outros não nos podemos esquecer dos tempos em que falar era o meio mais fácil de alguém ir parar as masmorras. Há que se respeitar a luta que todos outros enfrentaram para se chegar a este ponto de Liberdade, mas quem a quiser voltar a condicionar« e usar de nós e abusar de nós só deve estar preparado para as consequências que podem demorar mas hão-de vir.
Não se pretende ressuscitar fantasmas, mas quem não respeita a dignidade dos moçambicanos está sujeito a que um dia tudo se vire para que possamos viver todos com o mesmo respeito que nos é devido pelo Estado comum.
Basta de hipocrisia, de discursos bem desenhados, de proclamações enganosas. Os moçambicanos querem e exigem os seus direitos. Exigem que os seus direitos não se fiquem no papel.
Exigem que as obrigações do Governo não fiquem no papel.
A moçambicanidade cobre-nos a todos e não só a “cidadãos especiais
Canal de Moçambique – 08.08.2012

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