quarta-feira, 15 de agosto de 2012

IESE: As aberrações do director de investigação!

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Reflexão de Adelino Buque
Reflecti muito sobre se devo reagir ao que li na en­trevista dada pelo director de investigação do IESE ao semanário Canal de Moçambique. A questão seria se conhecendo como conheço a instituição IESE, devo manifestar a minha indignação com a instituição ou com o seu director de investigação. Conclui que a minha in­dignação deve ser dirigida ao IESE, porque o Professor Doutor António Francisco, como indivíduo, pode dizer o que bem entender, mas se o que diz se relaciona com uma instituição de prestígio como é o IESE, o discurso ganha dimensão diferente, cabendo à Direcção do IESE defender o nome e o prestígio que a instituição ganhou ao longo do tempo e, por conseguinte, saber separar os trabalhos de investigação e as mensagens pessoais dos seus investigadores, ainda que esse investigador ocupe o cargo de director.
Ora, o IESE foi a primeira instituição a pronunciar-se sobre a necessidade de os mega-projectos cumprirem com as obrigações fiscais exigidas no exercício de uma actividade económica. Através do director do IESE, Carlos Nuno Castel-Branco, a sociedade moçambi­cana aprendeu a olhar para a exploração dos nossos recursos como um negócio e não um favor que se faz a Moçambique, daí a necessidade de cumprir as obrigações fiscais pertinentes. Este discurso que, aos ouvidos dos governantes, inicialmente soava à intromissão, paula­tinamente foi ganhando adeptos, sendo que um dos primeiros a entrar em dissonância com a Governação foi o Governador do Banco de Moçambique, ao defender a revisão dos contratos com os mega-projectos. É estra­nho que o director de investigação da mesma instituição apareça, hoje, a dizer que, "em 2010, disse algures que a contribuição foi de 0,04%, o que representa uma violação impune dos direitos humanos das populações onde existem recursos. Direitos huma­nos? Mas quais direitos humanos? A violação dos direitos humanos prolonga-se desde que o estado usurpou e se tornou único e exclusivo monopolista da terra e de todos os outros recursos naturais". Como que a responder ao director do IESE, o director de investigação da mesma instituição, IESE, portanto, diria, a dado passo da entrevista, "mas se você acha que aquela terra é propriedade do Estado, em vez dos seus legítimos ocupantes, por que protesta que cobre o que cobra? Se você concorda que o texto constitucional declara que a terra não tem valor económico, porque é isso que significa a decisão de proibir a venda, hipoteca, penhora e qualquer tipo de alienação comercial". O director de investigação do IESE pretende que a Constituição seja revista? Olha, tem aí uma oportunidade soberana, o texto constitucional está em debate.
Desta reflexão surge uma dúvida: quem não con­corda com o texto constitucional? O IESE? O director de investigação do IESE? Ou simplesmente o nosso conci­dadão António Fernando? Provavelmente, aqui, o próprio IESE se deva pronunciar, como referi acima, em defesa dos seus ideais. Na verdade, o IESE, escrevi em tempos, constitui uma plataforma de educação sobre a cidadania. Ora, assumindo que o director de investigação do IESE fala a coberto da instituição, este posicionamento merece uma nova reflexão, porque, muitos moçambicanos há muito compreenderam a pertinência de a terra perten­cer ao Estado. O sector privado, em tempos, debateu a necessidade de a terra servir como colateral para os negócios. A questão mereceu muita atenção, contudo, nenhum banco posicionou-se relativamente a esta ma­téria, isto é, se se pode considerar a simples terra um colateral real para investimentos. Nunca ficou claro se a falta de financiamento à agricultura é, efectivamen­te, efeito da Lei de Terras. Mais do que isso, não sei para que utilidade usaria um banco uma extensa terra penhorada algures neste país, excepção para as zonas urbanas e sua periferia. Ou pretende o IESE levantar o debate sobre a Lei de Terras? Que seja objectivo. Aliás, o próprio entrevistador parece-me que foi apanhado de surpresa ao ponto de questionar: "mas essa é também a crítica do IESE, ou não é?" Era tanta a contradição do Professor Doutor sobre o assunto em análise!
Sobre o ambiente de negócios
O director de investigação do IESE dispara em todas as direcções. Provavelmente, vivemos numa sociedade em que somente o segmento por si representado tem razões e propriedade de dizer e falar do que os outros devem fazer e seguir. Quando fala do ambiente de negó­cios, por exemplo, diz que em pleno período de guerra, Angola tinha um bom ambiente de negócio de petróleos e a UNITA de diamantes. Ora, tudo leva-me a supor que este Professor Doutor não sabe a que se refere quando se fala de ambiente de negócios ou tem pretensões que desconheço. No caso de Moçambique, as regras e avaliações nem sequer são dos moçambicanos. O que acontece entre nós é, num determinado momento, as instituições publicarem algo sobre o ambiente de negó­cios em Moçambique enquadrado num ranking mundial. Existem casos em que nem os moçambicanos entendem as motivações de subir e tão pouco de descer. Muito recentemente, técnicos do Banco Mundial estiveram em Moçambique para ensinar formas de classificação do ambiente de negócios. Nos direitos humanos acontece a mesma coisa. Por exemplo, se é violação dos direi­tos humanos um recluso passar uma a duas refeições por dia, o que será de um cidadão em gozo das suas liberdades não poder ter sequer uma refeição por dia? Porque, diga-se, não são somente os reclusos que não têm refeições condignas neste país.
Muito recentemente, o Provedor de Justiça indignou-se com o facto de reclusos da cadeia do comando da cidade dormirem sem colchões. Espero que o Prove­dor de Justiça visite as centenas, se não milhares, de moçambicanos que, em plena liberdade, não possuem um cobertor neste período de frio intenso. Não estou contra a indicação de violações e tão pouco a favor de violações.
A terminar, espero que as minhas reflexões sejam vistas nessa perspectiva apenas e não noutra que não se encontra escrita. Pessoalmente, continuo a respeitar a instituição IESE e, particularmente, o seu director, Nuno, por tudo quanto têm estado a fazer em prol da verdadeira moçambicanidade. Penso que este trabalho e esforço não podem ser deitados abaixo por pessoas pouco comprometidas com a instituição IESE, como me parece ser o seu director de investigação, por sinal, a área- chave da instituição!
CORREIO DA MANHÃ – 06.08.2012
(Só agora publico, porque só agora consegui este texto)
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/08/iese-as-aberra%C3%A7%C3%B5es-do-director-de-investiga%C3%A7%C3%A3o.html

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