sábado, 4 de agosto de 2012

Dos 16 anos: Máximo Dias assume culpa pela guerra – e diz ter sido o fundador da RENAMO juntamente com André Matsangaíssa(3)

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Do autor de "Mozambique: The Tortuous Road to Democracy", João M. Cabrita, recebemos mais este esclarecimente sobre a posição de Maximo Dias, em relação à fundação da RENAMO:
Sobre a Fundação da Renamo
As declarações de Máximo Dias ao jornal Notícias de que teria sido, conjuntamente com André Matsangaice, o fundador da Resistência Nacional Moçambicana, não coincidem com os factos.
Máximo Dias não diz em que mês de 1976 terá fundado a Renamo, na Beira. Pelo menos em Setembro desse ano, Matsangaice encontrava-se detido no campo de reeducação de Cudzo*, na região da Gorongosa. Conseguiu fugir nesse mês para a Rodésia, onde vem a conhecer Orlando Cristina. Até então não se falava - por não existir - na Resistência Nacional Moçambicana. Foi somente depois da chegada de Matsangaice à Rodésia que a ideia de uma Resistência Nacional Moçambicana começou a ganhar contornos, e foi em nome dela que Matsangaice regressou a Moçambique em Dezembro de 1976 para lançar um golpe de mão contra o campo de Cudzo, libertando os prisioneiros que lá se encontravam e que formariam o núcleo do movimento armado.
Acontece que o golpe, marcado para as vésperas de Natal (24.12.1976) fracassou, tendo Matsangaice voltado a ser preso pelas autoridades do campo por "se ter ausentado sem autorização". Conseguiu, no entanto, escapar de novo para a Rodésia e foi em Maio de 1977 que voltou a lançar um ataque a Cudzo, desta vez bem-sucedido, conseguindo levar para a Rodésia algumas dezenas de prisioneiros que lá se encontravam, enquanto outros dispersaram-se pelas matas, regressando a suas casas, em Moçambique.
O ataque foi atribuído, pela Voz da África Livre, à Resistência Nacional Moçambicana. Em Lisboa, na mesma altura, a Fumo reclamava a autoria pelo sucedido. E Matsangaice identificava-se perante os detidos em Cudzo como sendo da "África Livre", a única organização conhecida na altura, isto é, a emissora com o mesmo nome. O actual comandante do exército moçambicano, Olímpio Cambona, poderá confirmar este pormenor pois encontrava-se em Cudzo no dia do ataque, tendo integrado o grupo que acompanhou Matsangaice até à Rodésia.
Tudo isto para demonstrar que não era possível Máximo Dias ter fundado na Beira, em data incerta de 1976, a Resistência Nacional Moçambicana, pese embora o facto de naquela cidade terem surgido, espontaneamente, núcleos opostos à Frelimo e com ramificações nas hostes do próprio regime, incluindo o sector da segurança (Snasp). Refira-se, por exemplo, o caso de Zeca Ruço, inspector da PIC na Beira, e um dos primeiros a colaborar com a Voz da África Livre/Renamo.
A propósito, refira-se que o nome "Resistência" surgiu antes da chegada de Matsangaice à Rodésia, tendo sido utilizado amiúde nas emissões da Voz da África Livre como que a simbolizar o que se idealizava ser a revolta dos moçambicanos contra o novo regime, e organizada em moldes semelhantes à Resistência Francesa. Esse nome foi retirado da carta/s de um ouvinte da Voz da África Livre, que assinava com o nome de "Vasco da Gama" e que aparentemente residia em Maputo, ou arredores, dado que o teor das suas breves missivas relacionavam-se com nomes e pessoas da capital moçambicana. Este ouvinte tinha a particularidade de terminar as suas cartas com o slogan, "Viva a Resistência". Situando no tempo essas cartas, elas só poderiam ter sido escritas entre Agosto e Outubro de 1976, dado que o endereço postal da Voz da África Livre só foi anunciado, pela primeira vez, naquele mês, ou seja, em Agosto. Por volta de Novembro de 1976, quando Orlando Cristina estava ciente de que Matsangaice se propunha iniciar acções armadas contra o regime da Frelimo, a Voz da África Livre começou então por se referir a um movimento armado de oposição à Frelimo como "Resistência Nacional Moçambicana".
Máximo Dias visitou a Rodésia, mas já muito depois, nomeadamente em Maio de 1979, não se tendo reunido com Matsangaice. Tentou uma nova aproximação à Renamo em Dezembro de 1980, desta feita na África do Sul. Tal como da primeira vez, não se encontrou com o líder da Renamo, que na altura era Afonso Dhlakama.
Ao longo da sua carreira política Máximo Dias demonstrou ser pessoa incoerente, ambígua, a resvalar para a fantasia, atributos comuns entre os que têm da vida uma perspectiva egocêntrica.
PS.: O que acima expus foi retirado aleatoriamente do meu estudo publicado pela Macmillan/Palgrave em 2000, sob o título, "Mozambique: The Tortuous Road to Democracy".
* Este campo de reeducação é também conhecido por Sacudzo. Trata-se de um nome formado pela aglutinação da abreviatura de Serra ( Sª) e do topónimo Cudzo.
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2007/06/dos-16-anos-m-1.html

Comments

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VHM said...
Sou Jovem Moçambicano e com muito interesse na biografia completa deste senhor (Orlando Misquita), que Deus o tenha. Se possivel alguem pode me facilitar com um Web site onde possa visulizar fotos e a sua historia.
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filipafernandes said...
Dr Máximo Dias é um verdadeiro político, tem que fazer as suas jogadas.Bem, fez parte da GUMO, honra lhe seja feita, pois foi pena que a democracia durasse pouco tempo. Tão pouco que depois do 25 de Abril de 74 e antes de terminar Julho do mesmo ano fez com a Gumo um comício na Munhava no qual foi apedrejado,o que na realidade não foi nada bom pois em democracia é inaceitávél.No entanto depois desse comício, já pedia desculpas ao presidente da Frelimo,Samora Machel, num dos jornais de Moçambique, penso que, ou no Noticias da Beira ou no Diário de Moçambique. É só procurar entre essas datas, se ainda existirem jornais desse tempo.Foi co-fundador do Centro Moçambicano em Lisboa, Centro de Cultura, Desporto e Mútuo Socorro. A reunião foi feita no cinema da estação do Rossio em Lisboa. Enviou cartões aos aderentes, sem data. Na altura seria dificil fundar algo político em Lisboa, pois penso que isto terá sido ou em 76 ou em 77.Foi advogado em Portugal até terminar a guerra em Moçambique. Foi bom advogado,com um bom escritório num local central. Voltou depois da guerra terminar. Penso que terá tido contactos com elementos enviados pela RNM a Portugal e outros políticos Moçambicanos.Fundou a MONAMO. Terá tido muitos contactos políticos, ama naturalmente Moçambique como qualquer Moçambicano, independentemente de lhe concederem a nacionalidade ou não. Agora afirmar que fundou a Renamo? Claro que não fundou,também resistiu é verdade, foi um resistente, como todo os Moçambicanos que resistiram à sua maneira,muitos à fome à tortura,ao ter que fugir do país , ao serem expulsos, até muitos que pertenceram à Frelimo da altura resistiram em continuarem a pertencer e obedecer para não serem também massacrados.Resistiu-se dentro e fora. Ás vezes quando niguém assume a paternidade de algo, é preciso ter cuidado em querer assumir os filhos dos outros, porque os verdadeiros pais podem ser obrigados a assumir, para não serem ultrapassados. É pena que o dr Máximo Dias tenha assumido algo que não fundou. Bem, politicos são politicos,mas será que eles são todos iguais? Cuidado que a verdade Histórica nos tempos que correm vem sempre ao cimo, há a blogosfera, as pessoas deixam de ter paciência de esperar para que a verdade se saiba.Para bem de Moçambique, não se percam em tretas, deixem que os bons governem independentemente dos partidos a que pertencem.
fil.fer
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Free said...
Pelo que me dá a entender de uma leitura atura de vários documentos de que disponho, o Orlando Cristina, não era comunista. O pai dele é natural de Lagos. Ele (Orlando Cristina), ainda não pude apurar.
Ele foi de facto o braço direito e homem de confiança do Eng. Jorge Jardim
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Orlando said...
Quem é este Orlando de Sousa Cristina.
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Caneco da Beira said...
Máximo Dias, filho de um goês (caneco) e mulher moçambicana foi sempre grande mentiroso. Tendo terminado 3º Ciclo Liceal abriu um escritório na Beira para tratar documentos tais como Bilhetes de Identidade, passaportes, procurações, etc. Até cobrava somas avultadas aos que procuravam ficar isentos do Serviço Militar. Dizia ser amigo do Capitão Galrão, Chefe do D.R.M.B. Cobrava entre 20 e 30 contos. Foram muitos que cairam como patos e tiveram que ficar calados. Em 1962 o Máximo Dias, munido de procurações, conseguiu vender alguns terrenos dos indianos (com ganhos fabulosos para si) que estavam presos no campo de concentração (Armazéns da Lusalite) no Maquinino em resultado da invasão do Estado da India Portuguesa pela União Indiana em 18 de Dezembro de 1961.
O oportunista derrepente desapareceu da Beira sem deixar rasto. Muitos ficaram a perder passaportes, Bilhetes de Identidade e dinheros que estavam em seu poder. Anos depois vim a saber que um dos lesados pegou-o pelo colarinho em Lisboa, mas teve que largá-lo ao ouvir " olhe que agora sou senhor doutor e se não me largar já, posso mandá-lo prender".
Depois da Revolução dos Cravos e antes dos Acordos de Lusaka celebrados entre o Estado Português e a Frente de Libertação de Moçambique em 7 de Setembro de 1974, o Máximo Dias apareceu na Beira e fundou GUMO com a Joana Simeão. A sede provisória deste partido era no Prédio Náuticus onde eu morava. O homem que o pegou pelo colarinho é meu irmão que já vivia em Portugal antes de 25 de Abril de 1974.
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limpopo/save/zambeze said...
Cabrita esta dentro do contexto, Maximo Dias veio depois a Rodesia ,and then we find him to posh for the Job......
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Linette Olofsson said...
De nada caro Inhaca!
Eu, tenho o principio na vida, de dar sempre uma margem ao benefício da dúvida...
Se a verdade já saiu, melhor será para todos nós.
O importante é atingirmos a verdade dos factos historicos.
Ainda há muito por se contar desde da criacao dos primeiros movimentos de libertacao Nacional, deixe lá! nem tudo que esta ca fora é de se consumir...
Vamos dialogando.
Terá que esperar muito caro Inhaca, é bem vinda a sua ideia.
Olofsson
in Sweden

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João Cabrita said...
Orlando Cristina nasceu em Setembro de 1928. Portanto, na altura teria 21 anos.
Gostaria de realçar que o escrevo é fundamentado naquilo que se convencionou designar por "fontes primárias", neste caso o próprio Orlando Cristina.
Para além do pormenor da campanha eleitoral (ele era na altura militante do PCP, via MUD Juvenil, como a mãe e padastro o viriam a ser depois do 25 de Abril), muitos outros cito no meu livro com base no que me contou Orlando Cristina.
João Cabrita
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Santa Cruz-1944 said...
Relativamente ao Orlando de Sousa Cristina - que nunca conseguiu concretizar o seu sonho de ser produtor de tilápias -, julgo que devemos cuidar melhor da sua biografia. Um exemplo dos graves erros que se podem cometer seria envolvê-lo na campanha presidencial a que concorreu (até à desistência, contra «os comunistas») o general Norton de Matos. Para não dizer mais, basta lembrar que essa campanha ocorreu em... 1949. Que idade tinha então o Orlando?
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João Cabrita said...
A Moreira da Silva:
Orlando Cristina era natural de Lagos, no Algarve. O pai radicou-se no Niassa. Orlando Cristina era estudante da faculdade de direito em Lisboa quando a mãe, que vivia em Portugal, optou por enviá-lo para junto do pai devido a questões políticas relacionadas com a campanha eleitoral de Norton de Matos. Estava em vias de ser preso. O Orlando Cristina tem irmãos nascidos no Niassa, e um filho, nascido duma yao, com quem se casou ritualmente, e que vive em Portugal. (dados obtidos, em Lagos, no âmbito do referido estudo, junto da irmã de Orlando Cristina e do padrasto, já falecido)
A versão do “desmantelamento das células da Frelimo no Maláui” é empolada. Nem mesmo na Tanzânia ele desmantelou célula alguma. No Niassa, sim, participou em acções contra a guerrilha da Frelimo, e esteve envolvido no sistema de auto-defesa de Mecanhelas, junto ao Lago Chirua. Dominic de Roux fala sobre este aspecto num livro interessante publicado em Portugal depois do 25 de Abril, “O Quinto Império”(Lisboa: Edições Roger Delraux, Belfond, 1977). Vale a pena a ler, apesar do labirinto de citações e duma linguagem que não dá, por vezes, para entender. (verdadeiro quebra-cabeças) Talvez por isso é que já o li e reli várias vezes...
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Santa Cruz-1944 said...
Não sei se era dali natural, mas o pai do Orlando, um português, viveu durante muitos anos no Niassa. O Orlando (de Sousa Cristina) foi depois para a Marinha e chegou a infiltrar-se na Frelimo, na Tanzania, como espião. Ao regressar a LM - depois de desmantelar células no movimento guerrilheiro no Malawi e em certos distritos de Moçambique -, houve problemas com as novas autoridades (que não sabiam da sua missão na Tanzania) e chegou a estar preso na Xefina. Depois de tudo esclarecido, o Cristina viajou para a Beira e veio a ser o «braço direito» de Jorge Jardim nas operações deste na fronteira com o Malawi. De quando em vez, a Marinha portuguesa (caso dos fuzos)pedia o apoio do ex-oficial Orlando de Sousa Cristina para operações no Niassa!!! A ligação deste «James Bond pequenino» (como era conhecido em certos meios da Beira) com a Rodésia aconteceu por causa de um problema de saúde do seu filho. Bom, mas é melhor ficar por aqui, quando não ainda começo a falar das amizades do Cristina na Beira e lá se vão (ao ar) algumas biografias de revolucionários moçambicanos...
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Moreira da silva said...
Este Orlando Cristina não é natural da Provincia do Niassa?
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nhaca said...
Obrigado SR Cabrita.
Nos meus comentarios anteriores ja disse que Maximo Dias é um camaleao oportunista. É tempo de lhe pedir contas. Deveria pedir demissao como deputado da Assembleia porque nao queremos falsificadores. Ao DR Maximo Dias, ser advogado nao quer dizer ser um mentiroso politico descarado. Sei que a politica é a ciencia de saber mentir e convencer mas com discreçao e nao com factos historicos que alguns de nós temos acessos. Mas uma vez Obrigado SR Cabrita. meus concidadaos, a proxima naose deve votar ao Maximo Dias, que continue como advogado.
Para mi cara Linette , a verdade ja saiu.... Boa continauaçao na suecia e espero que nos veamos em MOçambique brevemente para debates de este tipo.
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Saturado said...
O problema é de no meu país não haver escândalo político. Imagino se este tipo de declaracões acontecessem num país democrático, isto obrigaria ao Máximo Dias um time-out na Assembleia da República
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Santa Cruz-1944 said...
Face aos comentários que se sucedem, que tal Máximo Dias pormenorizar sobre a fundação, na Beira, da Renamo? Já lá vão mais de 30 anos e que é que ele tem a perder? Absolutamente nada! Logo, ou pormenoriza ou fica com um rótulo de grandecíssimo mentiroso! E, sendo assim, nem o presidente-empresário Guebuza lhe dá emprego... político.

1 comentário:

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