domingo, 12 de agosto de 2012

DIALOGANDO - Reminiscências da guerra

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JÁ disse várias vezes aqui que recordar é um imperativo da verdade, tanto mais quando ela (recordação) está inculcada nas nossas profundas consciências como seres humanos que sofremos muito no passado por causa por, exemplo, da guerra, calamidades naturais, acidentes de viação e outras situações adversas da vida.
Maputo, Quinta-Feira, 9 de Agosto de 2012:: Notícias
E por falar da guerra, diga-se que é um mal que não deveria existir, pois provoca consequências nefastas nas sociedades humanas. Para isso, todos os seres humanos precisariam de tomar atitudes correctas, pautando pelo diálogo permanente na resolução dos seus problemas ou diferendos.
Em todos os países do mundo onde houve guerra, esta deixou reminiscências profundas e negativas na consciência das pessoas. É o caso do nosso país, onde durante 16 anos a guerra fez muitas vítimas, além da destruição de importantes infra-estruturas, entravando, assim, o rumo que o país seguia em termos de desenvolvimento social e económico, depois da conquista da independência nacional.
É certo que no período que se seguiu à independência nacional o país não tinha quadros qualificados em vários sectores de actividades, que pudessem contribuir ou assegurar o desenvolvimento da nação, depois de a maior parte deles, que eram estrangeiros, ter saído de Moçambique. Mas estejamos cientes de que o factor guerra também terá sido decisivo para a estagnação da nossa pátria. Há muitos episódios macabros dessa guerra que não se podem olvidar, embora tenha terminado.
As muitas mortes causadas pela Renamo na zona de Murravale, Muataua e Caramaja, por exemplo, serão sempre recordadas com mágoa. A própria Igreja Católica, que muito contribuiu para o fim do conflito armado em Moçambique, também se lembra com profunda mágoa a perda do seu querido padre na zona de Murravale, e que dada a agressividade dos homens da Renamo não foi possível retirar do local o corpo, onde até hoje jaz. Na vila de Malema, situada entre rios, muitas pessoas morreram por afogamento quando a Renamo atacou. Foi um ataque feroz que deixou alguns veículos blindados dos soldados do Governo destruídos. À semelhança do que acontece noutros pontos do país, essa ferocidade hoje continua a ser testemunhada através de algumas infra-estruturas destruídas, que ainda não foram recuperadas naquela vila.
Foi preciso levar a cabo, sem demoras, um conjunto de acções concretas que facilitassem o entendimento entre os protagonistas, neste caso o Governo e a Renamo, para pôr fim à carnificina em Moçambique. E foi assim que se assinou o Acordo de Paz, no dia 4 de Outubro de 1992, em Roma. Aliás, esta crónica surge a propósito da celebração dos 20 anos dessa assinatura e não para “martelar” feridas quase curadas. Até porque semana passada a sociedade civil nampulense reflectiu profundamente sobre esse acordo porque, na verdade, não basta pensar que a paz é boa, torna-se necessária para daí se tirarem todos os proveitos, nomeadamente a reconciliação, respeito, patriotismo e união.
É verdade que há muitas reminiscências macabras inculcadas nas nossas mentes sobre aquele conflito, mas os nossos discursos não podem servir para esconder a ausência de convicções sobre a necessidade da preservação da paz. É preciso encarar a paz a sério e com a humildade democrática, com ideias bem demarcadas de querer desenvolver o país e não como um mero exercício político. Depois do fim da guerra, é necessário que construamos um país onde a livre expressão e meios legítimos de solução de conflitos, sobretudo políticos, se processem de acordo com o jogo democrático. Continuemos a ser intransigentes defensores da democracia e da sua consolidação aliado à unidade nacional na nossa pátria.
  • Mouzinho de Albuquerque

Comments

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Francisco Moises said in reply to Eusébio...
O sr. Eusébio esta de parabens--de muito parabens mesmo. Nao por ter revelado o que choca a consciencia humana, pas por ser honesto e sincero e falar daquilo que o sr. conhece.
E eu por minha vez recuso-me ser papagaio da Frelimo ou da Renamo. Fui da Frelimo e militei nela e revoltei-me contra os crimes que se cometiam sem nenhumas razoes. Nao me revoltei porque queria destruir a Frelimo. Muito longe disto. Fi-lo visto que queria uma Frelimo melhor. Desde que isto nao foi possivel e vi-me ameaçado com o exterminio da minha vida por ter labutado por uma Frelimo melhor e humana, entao tive que me afastar. E desde sempre me guiei por minha consciencia.
Falar das causas da guerra em Moçambique e falar de algumas virtudes que no terreno presenciei no lado da Renamo nao é de nenhuma maneira aplaudir a guerra que nenhum homem com uma boa consciencia dever desejar. E nem é de nenhuma maneira querer dizer que a Renamo foi limpa. Ha mesmo um lado que seja limpo num teatro de guerra? Mas nao gramo presentaçoes que queiram dar virtudes a alguns e demonisar a outros. Se quizermos ser honestos, falemos das virtudes e dos vicios de ambos os lados.
Infelizmente a Renamo foi bem forte militarmente, mas foi desde o principio um burro morto politicamente visto que o sr. Dhlakama so pensava e pensa em se agrandisar e nada mais. A politica nao devia se fazer com todas as actividades e atençoes viradas para um so individuo. A politica totalitaria nao nos leva a nenhuma parte. Este é o meu ponto de vista e dai que nao glorifico nem a Frelimo nem a Renamo por querer glorificar.
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Eusébio said...
Empenhar-se contra a Renamo achando boas todas as armas e aproveitáveis todos os ardis, colocando-nos na posição de vítima, constitui uma mutilação da História e atear o fogo onde era suposto apaga-lo. O Sr. Albuquerque pôs ao serviço da sua causa uma crónica desprovida de fundamentos históricos a começar pelas causas. Já que é recordar é um imperativo da verdade, como o Sr. advoga, recordo-me ter ido a BIVE (Mocuba) ao encontro de uma senhor que fora apontado pelo seu papel quando militar do exército governamental.
Falou-me de muitas emboscadas que a Renamo organizou como forma de evitar as punições colectivas contra aldeias inteiras arquitectadas pelo exército convencional. Confirmou-me a denúncia que sobre ele recaía e mostrava sinais de arrependimento e perturbação de saber que parte das epopeias que ele não me dissera havia sido contada pelas suas vítimas. A Senhora que o acusara, uma mãe humilde de Namanjavira contou-me como foi vítima do exército governamental, representado por aquele soldado. Aos prantos e lágrimas disse que fora acusada de ter dado galinha aos Bandidos Armados enquanto ao marido pesava o crime de espião «kazitape, segundo ela».
Os dois (os 3 filhos haviam sido escondidos na latrina) foram levados em direcção a Benfica. A dado passo, encontraram outros «infelizes» cansados de porradas e torturas. «Eram muitos (mahandede, suponho ser as centenas, do handred, inglês, pois a senhora gastou parte de anos no Malawi) alguns conhecidos como ………….outros não. O meu marido foi recebido com paulada de uma arma e quando estava para cair, corri para segurá-lo. Um soldado, hoje desmobilizado a residir em Mocuba (BIVE) disse que como eu o amava tanto receberia um prémio. […] Ah…; recebi o pénis do meu marido e obrigaram-me a andar com ele até perto de […..] onde sofremos uma emboscada. Finalmente, a Renamo libertou-nos daquela viagem ao matadouro. Sim. Íamos ao matadouro e todos nós conhecíamos do local. Apesar que outras pessoas morreram quer antes assassinadas a sangue frio como na própria emboscada, hoje os sobreviventes somos muitos».
É chocante ouvir o resto da história de como aquela senhora lidou com o pénis do marido por quase 10 anos e as reminiscências disso. Então, Sr. Albuquerque, muitos se recordam das atrocidades, com feridas vivas. E podem sentir-se insultadas se lhes insulta aqueles que têm como salvadores. Imagino que seja fácil escrever aulas de moral para aconselhar a Renamo com conhecimento da guerra dos Jornais e da Rádio. O inverso não foi tão bom e não podemos simplesmente ignorar. Temos que aprender a elevarmo-nos, sem rebaixar os outros. Lancemos o esforço na recolha de memórias da guerra para conquistarmos os corações que ainda nos são hostis. Com esse tipo de crónicas, o voto zambeziano continuará a penalizar-nos. A mesma Renamo que desprezamos foi um verdadeiro «libertador daquele grupo de pessoas» e tem razões para nos penalizar em todas as eleições, pois aquilo já passou de mito.
Precisamos dizer e respeitar a História que o país tinha quadros e nem todos eram estrangeiros. Quando o Engenheiro Daviz Simango orientou a construção do IMAP de um dos distritos do nosso belo Moçambique, no século passado, eu encontrava-me no Lilongwe (Malawi), na oficina de um grande empresário (Sr. PEGAS) e dono de PEGAS Constructions. Constou-me que foi ele o fornecedor de grande parte do material para cobertura daquele IMAP. O Sr. PEGAS recusa-se a ser chamado de «português» e sente-se moçambicano, forçado a exilar-se pelas circunstâncias do tempo. Fala de amigos dele que tentaram permanecer mas que se viram acusados de tráfico de peles de animais, de camarão, enfim, de crimes económicos, alguns condenados à morte a partir de 79.
Como ele, há muitos PEGAS espalhados pelos países vizinhos que poderiam contribuir para desenvolver Moçambique. O senhor pensa que «foi preciso levar a cabo, sem demoras, um conjunto de acções concretas que facilitassem o entendimento entre os protagonistas» o que significa para o Sr. «sem demora»? Quererá o senhor dizer-nos que 34 anos de revolução são poucos ou, para seguir a corrente menos hostil, 16 anos é pouco tempo na sua crónica? Como se defende a democracia desprezando e culpando outros pelos vícios e chamando para nós as virtudes? Não se sinta atacado, é uma opinião incidida na sua crónica que pode despreza-la, como lhe aprouver. Um abraço, Sr. Albuquerque
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Francisco Moises said in reply to Macaco Novo...
Traduziu muito bem. Parabéns!
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Macaco Novo said in reply to Francisco Moises...
Meu inglês tem insuficiências. Será que se traduz para o português como "jogar com pau de dois bicos"?
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Francisco Moises said in reply to Macaco Novo...
What is good for the goose must also be good for the gander! Isn't it?
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umBhalane said...
A LUTA É CONTÍNUA.
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Macaco Novo said in reply to Francisco Moises...
Renamistas não precisam de dizer nada neste blog. Já temos o Francisco Moisés que vem sempre à frente - ora para bater na Frelimo, quando quer defender a Renamo, ora para bater na Renamo quando quer defender-se a ele próprio.
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Francisco Moises said in reply to umBhalane...
Caro umBhalane,
Talvez eu tivesse sido o primeiro a ter a tentaçao de comentar sobre este artigo, mas cheguei a conclusao de que nem merecia um comentario sequer visto que se tratava duma regurgitaçao da propaganda da Frelimo. Veja que o artigo do tal Mouzinho de Alburqueque nao fala das causas da guerra. É porque ele deu a entender que a guerra nao tinha a razao de ser visto que so foi lançada para baralhar ou frustrar o desenvolvimento que a Frelimo empreendia.
Este artigo nao tem nenhum valor intelectual. Falou da agressividade da Renamo que teria matado um padre. Quem matou o padre Gwenjere, foi a Renamo? Quem matou os prisioneiros politicos a fogo em Mitelela -- foi a Renamo, como alias o inhacoso Sérgio Vieira dito que foram mortos aquando dum ataque da Renamo ao campo da concentraçao da Frelimo para o qual ele, Sérgio Vieira como o terrivel juiz de Nachingwea os tinham enviado e se encontravam? Sabe se, porem, que a Renamo em 1977 nao tinha começado a operar em Niassa.
Que provas tem ele para dizer que os tais massacres dos lugares que citou nao foram perpetrados pela Frelimo? Quem trouxe os zimbabweanos,os tanzanianos, os russos que pilotavam os helicopteros Mi-24 durante a guerra civil -- foi a Renamo ou a Frelimo? Quem afinal de contas desencadeou a guerra contra a Igreja catolica e mandou muitos padres e fiéis a campos de concentracao, ditos de re-educaçao, foi a Renamo ou a Frelimo?
Obviamente, a Renamo de Afonso Dhlakama é tambem muito inutil -- uma grande e triste brincadeira. Até hoje, a Frelimo diz a propaganda que quer e nenhum renamista diz nada neste blog que os renamistas deviam estar a visitar como faz os agentes da Frelimo que nao evitam em assaltar comentadores visto que estes escrevem coisas que eles nao querem ver reveladas.
Ha! os renamistas nao podem visto que ninguem na Renamo deve falar se o capitao-mor nao da a permissao. Todos na Renamo tem medo do capitao-mor. Que democracia é esta do pai da democracia moçambicana cuja actuaçao favorece a propaganda da Frelimo que domina as ondas sem nenhuma oposiçao?
Que pai de democracia é este que fica no poder do seu partido por 33 anos. É Magarila Machel? É Nyerere? E Banda? É Salazar? É Francisco Franco,"caudillo de Espana pela gratia de Dios?"
Sera que os renamistas nao vem que isto nao tem nada de democracia e que deviam mandar o seu caudilho passear para a Espungabera? Mabandidus como este Dhlakama que querem se fazer de dirigentes vitalicios nao se deviam admitir na Frelimo ou na Renamo.
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umBhalane said...
"Este" Mouzinho de Albuquerque deve de ser amigo ou cabrito avassalado dos N'gunis.
É que ele "ESQUECEU" de falar nos massacres da frelimo, nos bombardeamentos com napalm, até que alguns deles, com recurso a mercenários estrangeiros, para massacrar, assassinar o Povo Moçambicano.
Esqueceu também de lembrar as destruições, sabotagens da frelimo a muitas infra-estruturas de Moçambique, para obstar/parar o avanço da RENAMO - nomeadamente pontes.
Fábricas e cidades, vilas e aldeias destruídas.
Até hoje mesmo há um "MUSEU" que tudo isso recorda - o LUABO, mas há muitos outros.
Mesmo em Marromeu há vestígios da senda assassina e destruidora da frelimo, até hoje.
Mouzinho de Albuquerque quer dar lições de moral a quem?
Onde está a isenção, a bondade do seu artigo.
Mera manobra de propaganda a favor da frelimo, ainda que com recurso a palavrinhas mansas, mas envenenadas.
É bom ANALISAR bem o texto.
Conversa para inhacoso (“burro do mato”) dormir.
Fungula masso iué (abram os olhos)
A LUTA É CONTÍNUA

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